domingo, 9 de janeiro de 2011

O BRASIL É MEDÍOCRE

 Helder Caldeira
 Escritor e conferencista
               heldercaldeira@estadao.com.br

O Brasil não é um país sério. Popularmente atribuída ao ex-presidente francês Charles de Gaulle, essa frase traduz a síntese do que nos tornamos. No imaginário dos fantasiosos, o país está se tornando uma potência em desenvolvimento e um exemplo de democracia. Para os bravateiros, nunca antes na história desse país estivemos tão bem. Mas nossa realidade é assombrosamente triste. Estamos nos tornando um povo leniente, acomodado, massa de memória curta e fácil manobra, cúmplices de nossos Poderes iníquos e corruptos.

Quando é que os cidadãos de um país sério aceitam com serenidade o fato de pagarem uma das maiores cargas tributárias do planeta sem ter sequer um sistema de saúde ou educacional minimamente decente? Ao contrário, a quase unânime aprovação do ex-presidente Lula deve estar exultante por bancar as férias nababescas de sua família em instalações presidenciais no Guarujá, litoral paulista frequentado pelos endinheirados. Enquanto isso, brasileiro otário, preocupe-se em limpar o seu nome no SPC e pagar seus impostos em dia, senão faltará dinheiro em Brasília.

Em que país sério, um ministro de Estado transgride deliberadamente as leis constitucionais para fornecer passaportes diplomáticos aos filhos de um ex-presidente? Que piada pode ser mais engraçada que dizer que, há oito anos, os filhos do presidente eram pobres professores e hoje são milionários bem-sucedidos, megaempresários donos de uma holding com seis empresas e sócios da maior prestadora de serviços de telecomunicações da América do Sul. Inspire-se, brasileiro babaca, afinal isso é que é um exemplo de mobilidade social. Os agora diplomatas Lulinhas estão rindo à toa nas férias que nós estamos pagando pra eles no Guarujá.

Que nação soberana tem um presidente que, como último ato de seu governo, chancela a acolhida a um assassino internacional e faz dele um pátrio cidadão, defecando na cara dos pseudopoderosos e letrados ministros do Supremo Tribunal Federal e pisoteando a democracia de outro país? Em que lugar desse planeta, um país sério e digno abraça fraternalmente um forasteiro italiano condenado à prisão perpétua pelo homicídio de quatro pessoas, por ter deixando outro paraplégico, por assaltos e outros delitos enquanto integrava um grupo extremista chamado Proletários Armados pelo Comunismo (o PAC da Itália)? Onde, brasileiro imbecil, um terrorista ganha o status de companheiro do presidente da República?


Em que quinto de inferno, políticos derrotados nas urnas ou em julgamento pela morosa Justiça por roubos e outros crimes ganham cargos nos primeiros escalões do Governo Federal? Há cinco anos, descobrimos que o país tinha institucionalizado uma releitura de “Ali-Babá e os Quarenta Ladrões”. O Ali-Babá saiu ileso e com superpopularidade; o chefe dos ladrões perdeu o ministério, mas é mais poderoso hoje do que antes; e a quadrilha que assaltou os cofres públicos está tranquilamente retornando ao poder. O último deles foi derrotado nas urnas, mas fora carinhosamente convidado pelo ministro Nelson Jobim a integrar os generosos quadros do ministério da Defesa. Quem diria, brasileiro memória-curta, que o mensaleiro de ontem é quem vai negociar e intermediar a famigerada compra milionária dos caças para defender o Brasil. Ora, poderia ser diferente? Poderia ser menos patético?

Que país, que pedaço de chão sob o céu, transforma seus pobres e seus miseráveis em massa de manobra eleitoral e farta-se em comemorações por dar-lhes cerca de R$ 100 mensais, mas os deixam sem educação, sem saúde, sem água, sem esgoto e, sobretudo, sem dignidade? O que fazer quando 87% da população de um país acha ótimo um governo que utiliza a Caixa Econômica Federal para produzir um erro de mais de R$ 11 milhões às vésperas da eleição, aumentando indevidamente e por baixo dos panos o valor pago aos beneficiários do programa Bolsa Família no mês de outubro, exatamente quando a população legitimava a presidência da candidata de Lula? Meu caro brasileiro, tolo como eu, isso aqui é terra de ninguém. Ou melhor, é terra de alguns!

Se uma nação fosse medida por seus bandidos ou pelo teor de samba e futebol nas veias, seríamos o mais afortunado dos países. Se um povo pode ser mensurado pela quantidade de mentiras que são transformadas em verdades absolutas, estaríamos atingindo os píncaros. Felizmente, os critérios de nação, de desenvolvimento e de democracia são outros. Nesse sentido, o Brasil não passa de um país triste, sem educação e sem cultura, miserável e iludido. Uma nação governada por nobres excrecências feudais e bandidos populares, legitimados por fantasias carnavalescas. Muito além do que possa ter dito um dia Charles de Gaulle, o Brasil não apenas deixou de ser sério. O Brasil é um país medíocre. E essa é uma conclusão tão lamentável quanto parece ser melancolicamente irremediável.

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Matéria copiada (inclusive imagem do autor) por Francisco Miguel de Moura, da Coluna: “Politicando”, site http://novo.portalappm.com.br/notícias. 

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