sexta-feira, 18 de junho de 2010

JOSÉ SARAMAGO (1923-2010)

NOBEL DE LITERATURA

BBC Brasil | 18/06/2010

Saramago era conhecido por ser polêmico e ter língua afiada. Deixou uma longa lista de desafetos. Também se natabilizou por seu lendário pessimismo.
O escritor português José Saramago, que morreu nesta sexta-feira, 18 de junho, com 87 anos, era conhecido tanto por seu talento literário como por suas visões polêmicas. Saramago era um comunista ferrenho e seus desafetos incluíam a Igreja Católica, o governo israelense e o ex-presidente americano George W. Bush. "Eu sou um comunista hormonal, meu corpo contém hormônios que fazem crescer minha barba e outros que me tornam um comunista. Mudar, para quê? Eu ficaria envergonhado, eu não quero me tornar outra pessoa", disse Saramago ao repórter da BBC Alfonso Daniels, em uma entrevista em junho de 2009.
Recentemente, Saramago fez duras críticas ao primeiro-ministro italiano, Silvio Berlusconi, a quem se referia como "vômito". "Na terra da máfia e da Camorra, o quanto é importante o fato provado de que o primeiro-ministro é um delinquente?", perguntou em "O Caderno de Saramago", o blog que escrevia no site da Fundação Saramago.

Desafetos
Em 2002, o escritor comparou a situação nos territórios palestinos com o campo de concentração nazista de Auschwitz. "Nós precisamos tocar todos os sinos do mundo para falar que o que está ocorrendo na Palestina é um crime, e está em nosso poder parar isso", disse ele, quando uma delegação de membros do Parlamento Internacional de Escritores se encontrou com o líder palestino Yasser Arafat em Ramallah. "Nós podemos comparar (a situação palestina) com o que aconteceu em Auschwitz", disse.
Saramago também teve desentendimentos com o governo de seu próprio país. Em 1992, ele se mudou em exílio simbólico para as Ilhas Canárias, depois que o governo português bloqueou a nomeação de seu livro O Evangelho segundo Jesus Cristo para um prêmio literário europeu por ser supostamente herético. "O ser humano inventou Deus e depois escravizou-se a ele", disse o escritor certa vez.
Fim de Portugal
Mais recentemente, em 2007, Saramago causou polêmica ao sugerir que Portugal um dia se tornaria parte da Espanha. "Eu acho que nós acabaremos integrando", disse ele ao jornal Diário de Notícias, de Lisboa. Saramago afirmou acreditar que Portugal se tornaria uma província ou região autônoma do país vizinho. Segundo o escritor, a Espanha provavelmente mudaria de nome e se chamaria Ibéria, mas os portugueses não virariam espanhóis. As declarações foram amplamente criticadas por outros escritores e pela imprensa portuguesa.
Em outra entrevista, esta ao jornal português Público, o escritor disse também que "como portugueses estamos cansados de viver". "Se calhar, a nossa missão histórica acabou", afirmou na entrevista.
Pessimismo
Saramago também era conhecido ainda por seu lendário pessimismo. "Eu sempre fui uma criança séria, melancólica", disse à BBC. "Eu sempre tendi a ver o lado negro das coisas, eu acho que as pessoas nascem com isso", afirmou, ao ser perguntado se a criação rural poderia ser responsável pelo pessimismo que, segundo ele, estava cada vez maior. Em abril de 2009, várias das opiniões polêmicas de Saramago foram incluídas no livro O Carderno, uma coletânea de textos publicados por ele em seu blog.
"O Caderno de Saramago"
Em 15 de setembro de 2008, quando estava com 85 anos, José Saramago iniciou uma apaixonante aventura no blog "A Página Infinita da Internet", onde escreveu crônicas pessoais da actualidade com o olhar crítico que lhe era característico.
Com "O Caderno de Saramago", o escritor português, falecido hoje aos 87 anos, estabeleceu uma nova forma de comunicação com seus leitores, que diariamente puderam compartilhar seus comentários, opiniões e reflexões sobre os mais variados eventos.
Ao longo do ano que durou sua experiência na internet, o prêmio Nobel de Literatura vivenciou em seu blog acontecimentos como a explosão da crise financeira mundial e o triunfo eleitoral de Barack Obama nos Estados Unidos. Saramago fustigou a esquerda, repreendeu líderes da direita europeia (José María Aznar, Nicolas Sarkozy, Silvio Berlusconi) e se declarou ofendido pela "displicência" com que, em sua opinião, "o papa e sua gente" tratam o Governo espanhol.
O escritor confessou em seu blog que chorou quando foi citado pelo ex-deputado colombiano Sigifredo López na entrevista coletiva que concedeu após ser libertado pelas Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), em fevereiro do ano passado. López quis expressar sua gratidão à senadora Piedad Córdoba, âncora do movimento "Colombianos Pela Paz", e a comparou à mulher do médico protagonista do clássico Ensaio Sobre a Cegueira, transformado em filme pelo cineasta brasileiro Fernando Meirelles.
De seu "Caderno", Saramago palpitou em assuntos da atualidade. Defendeu que fossem agravadas as penas de prisão aos autores de violência doméstica e assegurou que, com a morte do poeta uruguaio Mario Benedetti - em maio do ano passado -, "o planeta se tornou pequeno para abrigar a emoção das pessoas". Também pelo blog, o escritor se juntou a uma campanha para a libertação da elefanta Susi do zoológico de Barcelona.
O escritor se despediu dos leitores de seu blog em 1º de setembro, mas disse que, "se alguma vez tivesse algo a comentar ou opinar", recorreria ao "O Caderno", um espaço onde se sentia "mais à vontade" para se expressar. Os textos do blog de Saramago foram reunidos há um ano em um livro, intitulado O Caderno, que dedicou a sua esposa e tradutora, Pilar del Rio, inspiradora de sua experiência na internet.
Saramago confessou que sua aventura como blogueiro tinha superado todas suas expectativas. "Me impressiona, sobretudo, a rapidez da resposta dos leitores e a franqueza com que se expressam, como se estivéssemos entre colegas...".
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Compilado por Francisco Miguel de Moura, com dados da Internet: http://www.ultimo segundo.ig.com.br

2 comentários:

Anônimo disse...

Talvez, agora, vai-se descobrir o gênio que era o Saramago. Mas ele verdadeiramente o era. Um escritor que sabia, como poucos, manusear as palavras, como se somente dele fossem dependentes e a ele somente as pertencesse. De um estilo único e inigualável, fez provocações ao homem, fazendo-o pelo menos pensar, principalmente sobre Deus e a igreja. Desse modo, Azinhaga, que era tão pobre quando por lá ele nasceu, herda suas lembranças póstumas e tão ricas. Sem este José, portanto, o mundo fica menos crítico, e sem este Saramago, fica cego e desassistido.

CHIICO MIGUEL disse...

Concordo em número, gênero,grau e no que mais puder ser.
Saramago mostrou que escrevendo diferente na forma, no estilo, na simbologia, alcança-se as verdades escondidas na consciência e assim faz o leitor mais insatisfeito quanto ao que já leu antes. Mostra ele, o escritor, que é buscando que se encontra, e não apenas seguindo as mesmas pisadas anteriores. Su estilo barroco deu vigor ao Evangelho, deu luminosidade à Caverna, descobriu a maior cegueira, e ainda teve condições de passear pelo heterônimo Ricardo Reis, de Fernando Pessoa.
Mais não poderia fazer, mesmo sendo um prêmio Nobel, para grande honra da Língua Portuguesa: Não apenas para Portugal.
francisco miguel

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