Francisco Miguel de Moura*
Para quem vive ao pé do computador, consultando a internete sobre qualquer coisa, a última página da revista “Isto É”, de 28/4/2010, assinada por Zeca Baleiro, é muito ilustrativa. Como usar o absurdo de informações de que dispomos hoje, com bom proveito? A crônica focaliza Cauby Peixoto, com algumas informações erradas fornecidas por Joana, pessoa com capacidade de acumular muitas informações, mas quase nenhuma de processá-las de forma verdadeira. Baleiro diz que a “Joana” – personagem criada por ele – é como o “google”, onde inapelavelmente procuramos tirar dúvidas e informações difíceis ou raras, e lá vamos encontrar a inexatidão, erros e enganos imperdoáveis. Daí conclui que não basta ter enciclopédias e internete à disposição e o tempo de procurar as informações que desejamos. É preciso saber escolher as boas e corretas, ou seja, tirar o joio do meio do trigal. E como é que vamos saber? Estudando, lendo, diversificando... Escolhendo os melhores “sites”. Por minha parte, recomendo a wikipedia. É umas das bibliotecas virtuais confiáveis. Falar, ler e escrever são atos importantes do ser humano. Quem não sabe ler e escrever, mesmo que fale bem, arrisca-se a receber informações desencontradas ou totalmente erradas. A fala, a escrita e a leitura libertam o homem da ignorância e o ilustram, além de trazerem bens incalculáveis à saúde, desde que se saiba o que vai falar, ler, escrever (e aprender).
Numa obra chamada “Falar é Viver”, Pedro Bloch, assinalou os cinco verbos mais importantes: SER, TER, PODER, SABER e FAZER, uma lição que recebeu do famoso jurista e filósofo brasileiro Pontes de Miranda. Os verbos, aqui, estão alinhados na ordem de importância. O objetivo é apontar para a vida prática da cada criatura humana. É assim que o primeiro é o verbo SER, o segundo é TER e em terceiro, é PODER. Claro que, sem esses dois, nada se pode fazer, assim como sem eles nada se pode saber. Mas SABER também não vale nada e, como os anteriores, é impotente. Somente o último, FAZER, porque faz uso dos quatro primeiros, é prático – como diz a própria palavra – faz alguma coisa. Ou melhor: faz tudo. Mas, o verbo TER, para que seja tão importante, digamos que o segundo na escala das ações, necessita de explicação. Não é tão difícil, desde que se leve em conta que TER também pode referir-se à saúde, disposição para a vida, coragem para o estudo e o trabalho. Não significa ter coisas, possuí-las. TER, simplesmente para ter, seria a negação do SER. E, como está dito, trata-se de uma cadeia para o desenvolvimento humano. Seria “a negação da negação”, para citar uma frase dos marxistas, significando anulação do que foi expresso. Se não soubermos o que FAZER com eles, de nada aproveitará o homem. No caso da crônica do Zeca Baleiro sobre a “Joana” e “Google”, ficamos sabendo que aquela não sabia processar, guardar, selecionar as informações, e dava tudo errado. Foi o que fez a respeito de Cauby Peixoto, chamando-o de cantor “brega”. Como se brega quisesse dizer ultrapassado pelo tempo, pela idade. Na verdade o adjetivo “brega” significa chulo, vulgar, subcultural, popularesco, o que Cauby Peixoto nunca foi. Ao contrário, é um cantor de classe, elegante vocal e pessoalmente.
E o escritor Pedro Bloch completaria: - O que a gente faz é de todos, mas, o que a gente é, tem, pode, sabe – ao contrário – é muito pessoal. Eis a lição social e o testemunho que temos de oferecer à civilização e à cultura, como pessoas educadas.
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*Francisco Miguel de Moura, escritor, brasileiro, membro da APL, da UBE e da IWA. E-mail: franciscomigueldemoura@superig.com.br
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