sábado, 24 de abril de 2010

POR QUE MÍDIA E NÃO MEIOS?

Telescópio Kepler, a sonda mais potente que a Nasa eviou ao espaço


Paschoal Motta*











Quando se divulgou no Brasil a palavra mídia, da expressão mass media (Inglês e Latim), igual a meios de comunicação de massa, ou simplesmente meios, quase todos os comunicadores profissionais aprenderam a novidade e proclamaram a pronúncia inglesada de media, substantivo plural, de medium, gênero neutro, que resultou em nosso meio, meios, de largas usanças em nossa linguagem cotidiana.. Meios tem, como sinônimo, veículo de comunicação, atualmente desbancados pelo mídia, que grassou que nem tiririca no bastante mal cuidado jardim brasílico da Flor do Lácio.

Mais recentemente, importamos e adotamos, com antiga afoiteza, as palavras diet (com pronúncia daíete), bike (baique), com apenas as deformações fonológicas. Fiquemos só nestas de uma lista crescente. São reduções de diaeteticus (Latim), e bicyclette (via Francês, por sua vez composta do prefixo latino bis, dois/duas, mais a palavra grega kyklos, roda, (grafia latinizada), mais eta. Importamos, também dos Estados Unidos da América do Norte, bicycle, já representada em bike, e com a apreciada dicção estrangeira.




Até o Dicionário Aurélio registra esse mídia e anota sua formação e abrangência de significados históricos e atuais, na ignorância, porém, da sua descaracterização radical em nossa linguagem. Importações de palavras sempre serão saudáveis, mas dosá-las e adaptá-las, tal qual procedemos com football, foxtrot, corner, lead, penalty, team, copy desk, copyright, snooker... que aqui vestiram roupas de nossa linguagem e se converteram em futebol, foxtrote, córner, lide, pênalte, time, copidesque, copirraite, sinuca e outras muitas. Demos a elas, como não pode deixar de ser, um verniz latinizado, local, nos sons, na escrita. Sejamos, então, no mínimo, coerentes com esse apreciado mídia e vamos falar e escrever também: intermídio, intermidiário, midianeiro, midiatário, midiado, mídio ambiente, mídio-dia, mídio de campo, mídio-termo... aí afora. Temos já vaidade em grafar site e pronunciar saite, como se falássemos, aqui, o idioma de John Steinbek.
O Latim foi banido das escolas brasileiras! Pode ser estudado somente em Curso de Letras Neolatinas e escolas de línguas especiais. No mínimo, seu estudo ajuda a pensar com mais discernimento, lógica. Conheçamos e admiremos línguas estrangeiras e respectivas culturas; aproveitemos delas o que nos complete e encante. Alguns poderão objetar que enfrentamos males maiores e precisamos da imediata solução deles, como o comércio e uso indiscriminado de drogas entorpecentes e seus efeitos perniciosíssimos para a mocidade e suas famílias; fome endêmica, guerrilhas urbanas, doenças idem, ladroeira em expansão, impunidade generalizada entre outras mazelas.

E quem liga para as normas legais da ortografia vigente? Os meios impressos nem aí. Como nos levar outros a sério, se não nos levamos a nós mesmos, profissionais da comunicação?

Recentes advertências da UNESCO / Organização das Nações Unidas Para a Ciência, Educação e Cultura, através de seu diretor-geral, Koichiro Matsuura, afirmou, na celebração do Dia Internacional da Língua Materna: “Quando uma língua morre, uma visão do mundo desaparece.” E acrescenta que um registro idiomático desaparece a cada duas semanas. Por seu turno, Musa Bin Jaafar Bin Hassan, presidente da Conferência-Geral, da mesma Unesco, acrescentou: “As línguas não podem desaparecer sob o peso de outras. Têm que ser meios de expressão, que vivam e atuem junto às grandes línguas da Terra.” E ele considera isso de difícil solução no enfrentamento da globalização que coloca o Inglês numa posição predominante.

Onde estão os professores de Português? Os cursos de Letras Neolatinas, de Jornalismo, de Direito, de Publicidade? A Academia Brasileira de Letras, as estaduais, as municipais? E o Ministério da Cultura? As Secretarias de Estado e municipais de Educação? Não se movimentam? Desconhecem essas agressões a nosso patrimônio maior?

O Português, repetimos, patrimônio máximo do povo brasileiro, é o veículo nativo de que dispomos para representar nossos modos de ser, estar, agir, sentir e nos distingue no concerto das nações. Exige de quem o manifesta, profissionalmente, rigorosa e serena consciência crítica das variadas possibilidades de sua aplicação.

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*Paschoal Mota, Escritor, jornalista, professor, Belo Horizonte, MG - Imágem copiada da internete.

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