quinta-feira, 4 de março de 2010

SANTO DAIME, O QUE É ISTO?

Tela do pintor
Afrânio Castelo Branco


Francisco Miguel de Moura*

Santo Daime é um dos nomes da ayahuasca, que significa em língua quíchua liana ou cipó dos espíritos. Ayahuasca é uma bebida sacramental produzida pela decocção de duas plantas nativas da floresta amazônica: o cipó caapi douradinho e folhas do arbustro chacrona.


Na verdade, “Santo Daime” é também o nome de uma das centenas de religiões (ou cultos) indígenas, as chamadas religiões ayahuasqueiras. Países que utilizam ayahuasca: Peru, Equador, Colômbia, Bolívia e Brasil. E é sabido que, por ocasião das festas dos índios (e hoje também dos povos da floresta), esse chá é largamente consumido. E embora digam que ele é inteiramente benéfico, registram-se casos e casos de enjôos, vômitos, diarréia e sudorese, durante as sessões, além de outras pessoas que tomaram o “chá de ayahuasca” e passaram muito mal, uns morrendo imediatamente, outros adoecendo. Mas a divulgação dos “espirituais” efeitos do “daime” há tempos chegou à classe média e alta. Artistas excêntricos como Ney Matogrosso, Margareth Menezes, Eduardo Dussek, Lucélia Santos, todos procuraram na Amazônia as “igrejas” onde é usada a droga. E usaram-na (ou ainda usam?) e dizem que se deram bem. E assim propalam onde cantam ou representam. A história de Carlos Maltz, ex-baterista dos Engenheiros do Hawai, é diferente. Disse que viveu todos os excessos da vida de um popstar (álcool, drogas, sexo inseguro, etc.) e um dia brigou com o parceiro, que o deixou na “sola”. Fracassado, procurou o santo daime e, durante as cerimônias ervísticas, viu várias letras de música em sua frente, as quais não pôde copiar, pois uma voz dizia ser necessário perdoar o parceiro, antes. “E eu demorei, mas terminei perdoando-o. E hoje vivo feliz, mas ainda não escrevi a canção. Sou psicólogo junguiano junto à União do Vegetal de Brasília” (UDV de Brasília – uma das igrejas ou cultos ayahuasqueiros).

As observações sobre o uso e abuso do santo daime, acima mencionadas, foram tiradas da excelente matéria de capa da “Isto É” (10/2/2010), sobre o “santo daime”, a qual põe em destaque a seguinte notícia: “No dia 25 dejaneiro, em resolução publicada no Diário Oficial da União, o governo brasileiro oficializou o uso religioso do chá ayahuasca – também conhecido como “daime”, “hoasca” e “vegetal.” Na verdade, tenha o nome que tiver, trata-se de um alucinógeno, a ciência já reconhece. Mas é bem pouco o que se sabe da extensão dos seus efeitos pelo uso imoderada ou a longo prazo. Não importa que sejam invocados também benefícios acaso existentes. Afinal de contas, outras drogas também são usadas quimicamente na fabricação de remédios pela ciência.

Diante disto, creio que do ato presidencial, naturalmente, vão surgir dois questionamentos importantes: 1° – No Brasil, uma nação laica onde o direito de crença é consagrado constitucionalmente, o governo tem o direito de legislar sobre assuntos e/ou cultos religiosos? 2° – O governo brasileiro está agindo corretamente ao abrir uma brecha na legislação a favor do uso de uma droga em cerimônias religiosas? Sem dúvida nenhuma, com esse guarda-chuva do poder “os vendilhões do templo que é o homem – a criatura humana íntegral” vão exportar religião e droga, conjuntamente, como uma panacéia para os males da humanidade. Daí, eu pergunto: Como é que o poder público vai controlar o tráfico desta e de outras drogas?

É de ver que esse barulho todo começou porque descobriram que a ONU teria afirmado que essa bebida nem as espécies vegetais que a compõem são objeto de contole internacional. Ora, ora! Por acaso, a ONU já evitou alguma guerra? Para que serve ela, senão para sacralizar todas as conquistas dos Estados Unidos? A Suprema Corte dos Estados Unidos também deram seu pitaco no assunto. Mas o que é que ela tem com isto. O “daime" deveria ser, quando muito, um problema da OEA e dos países da América Latina.
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*Francisco Miguel de Moura, escritor brasileiro

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