segunda-feira, 22 de junho de 2009

A MEDICINA E A LITERATURA


Francisco Miguel de Moura*
Escritor


Os dois últimos séculos foram marcados por doenças terríveis. No XIX, a tuberculose fez estragos formidáveis, muitos poetas e artistas morreram na flor da idade; no século XX, veio primeiramente a gripe espanhola e depois a aides, quando os artistas foram os primeiros sacrificados. Mas a medicina também deu saltos. Foram a descoberta e uso da anestesia – daí o avanço do tratamento por cirurgias – os antibióticos, as vacinas e tão urgentemente o coquetel que suspende a morte pela aides. Até aonde vai a medicina como prática e onde começa a medicina-ciência as fronteiras não são bem definidas, pois parte dos médicos entregam-se às pesquisas e descobertas. O que se sabe é que a profissão de médico exige muita dedicação, é quase um sacerdócio.

Sou um leigo em matéria de ciência e principalmente da medicina. Mesmo nas chamadas ciências contábeis, em cujas matérias me formei antes de adquirir a Licenciatura Plena em Letras (Língua e Literatura), não tenho grandes conhecimentos. Mas sou um bom observador e leitor contumaz de tudo que trata sobre o avanço da medicina regenerativa. Não porque sou idoso, pois os jovens atletas e muitas outras pessoas podem necessitar de tratamento com células-tronco tão logo isto venha a ser uma realidade palpável. Assim, tendo lido no jornal “Correio Brasiliense” de 19 de junho de 2009, uma nova descoberta em relação às células-tranco – trago um resumo da mesma. Foi por acaso que descobriram, segundo declarações da cientista Tatiana Jazedje, do Centro de Estudos do Genoma Humano da Universidade de São Paulo (USP) e principal autora da pesquisa, que as trompas de Falópio (tubas uterinas) – canais que ligam o útero aos ovários – são reservatório de células-tronco. E, além do mais, a pesquisa conseguiu diferenciá-las em músculo, gordura, osso e cartilagem.

Lembrando que “na natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma”, enunciado de Lavoisier jamais contestado, durante tantos anos, fiz a minha adaptação para o caso: “da mulher nada se perde, tudo se transforma”, após aquele anúncio científico sobre as células-tronco nas trompas de Falópio, normalmente jogadas no lixo dos hospitais, depois das cirurgias. Os cientistas, inclusive o Dr. Paulo Perin, Diretor da Divisão de Medicina Reprodutiva Humana e coautor da pesquisa, garante que “a identificação de células-tronco no útero e no sangue menstrual levou a equipe a imaginar que as trompas também pudessem fornecê-las. Separamos os fragmentos de seis tubas uterinas das pacientes que se submeteram à laqueadura e à retirada das trompas. Então, identificamos essas células e as cultivamos, para verificar a expansão de sua disseminação em cultura. (...) A multiplicação dessas células foi tão intensa que temos um enorme estoque de células-tronco”, comemora Perin.

Observo, por outro lado, que a medicina e a literatura são as duas formas mais eficientes do conhecimento para a humanização do homem. Não sei se estou levando esta identificação tão longe. O fato de a ciência não ter encontrado ainda remédio para todos os males significa apenas que ela não é divina, mas humana. A literatura também não encontra remédio pra nada, mas quando se está doente, atormentado, ela chega, e produz seus efeitos psicológicos ou não. Vem e traz consolação, a palavra, o refúgio, a esperança, a conformidade. Há um real entrelaçamento entre saúde do corpo e saúde da alma, e a linguagem e a comunicação exercem um enorme papel. Concluindo, fica uma pergunta aqui: Por que há tantos médicos que deixaram a profissão para dedicar-se à escritura e tantos escritores resolvem estudar depois, para exercer a medicina?

OBSERVAÇÕES:
*Ogai Mori - O mais importante médico e literato japonês do século XIX, nascido em Tsuwano, e cujo nome real era Rintaro Mori. Graduado médico na Universidade de Tóquio, estudou na Alemanha como médico militar (1884-1888). Sua obra caracterizou-se pela preocupação em misturar medicina e literatura japonesas e européias sem prejuízos das raízes tradicionais. Faleceu em Tóquio e The Dancing Girl (1890) e The Wild Goose (1911-1913) são suas publicações mais conhecidas. ( Veja foto acima).


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*Francisco Miguel de Moura (autor deste artigo) – Escritor brasileiro, membro da Academia Piauiense de Letras e de outras instituições congêneres, além de sócio da União Brasileira de Escritores - São Paulo e da Associação Internacional de Escritores e Artistas (IWA), com sede nos Estados Unidos. Mora em Teresina - Piauí. E-mail: franciscomigueldemoura@superig.com.br

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