quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

CYL GALLINDO - MANUEL BANDEIRA

CORRESPONDÊNCIA
A FRANCISCO MIGUEL DE MOURA
– VIDA LITERÁRIA


Recife, 14-02-09

Querido amigo
Francisco Miguel de Moura:

Li comovido e muito alegre sua mensagem ao Paschoal Motta. Você fala de preciosidades. Nenhuma é maior do que você e o grupo piauiense, para mim.

Realmente, estive numa roda viva ao sair do Recife (Sudene) para Brasília. Aí encerrei (em parte) minha carreira profissional de jornalista – mas encerrei bem, lotado na Assessoria de Comunicação do Senado. A única lamentação: – Não consegui passar da Sudene (em estado terminal) para o Senado, o que me deixou com uma aposentadoria paupérrima. Recebera um convite da Senadora Júnia Maria /MG, para permanecer no seu Gabinete, recusado em nome de um sonho e de um ideal, que é seu também, a Literatura. De que me servia mais três ou quatro anos ganhando dois ou três mil reais, cheios de obrigações com horário, notas para a imprensa, gravar discursos e debates, entrevistas e fotografias?

Fiquei só com a aposentadoria pão com ovo e banana. Permaneci em Brasília, onde tenho um amplo círculo de grandes amizades, que incluiu o seu conterrâneo João Emilio Falcão, Fernando Mendes Viana, e continua com José Santiago Naud, Anderson Braga Horta, Branca Bakaj, Maurício Melo Júnior, Tristão Salustiano Botelho (grande romancista vencedor de Prêmio Nestlé, calado de dar raiva, para quem não lhe conhece o coração franciscano, de Francisco Miguel), Ivan, da Presença e tanta gente, que daria um catálogo.

No Recife, tratei de recompor os alicerces de antigamente, o que não é fácil porque... basta ler Oliveira Lima e Hermilo Borba. Ainda assim, tenho um considerável círculo de amizades, que incluiu Ascenso Ferreira, Gilberto Freyre, Mauro Mota, Joaquim Cardozo, e que hoje se estende a Marcus Accioly, Olimpio Bonald Neto, Milton Lins, Lourdes Sarmento e Lourdes Hortas, Dirceu Rabelo e quase todos da APL e da Academia de Letras e Artes do Nordeste – ALANE.

Trabalhos: Para não sair do Jornalismo, faz sete anos que sou correspondente para todo o País de Francachela – Revista Internacional de Literatura e Arte – editada na Argentina, e que talvez volte a ser editada no Chile, onde surgiu. Dessa correspondência, saiu um convite para traduzir e publicar um livro em Buenos Aires. Aceitei, mas antes sugeri à Editorial Francachela a criação da CICLA – Coleção Integração Cultural Latinoamericana, para tradução e publicação de autores contemporâneos. Sugestão acatada desde que eu ficasse como diretor. Fiquei. Só que para começar, preferi enviar livros de outros autores: 1 – Abdias Moura, com o Sumidouro do São Francisco - ensaio; 2 – Lourdes Sarmento, com Rituais do Desejo – poesia; 3 – aí enviei o meu De Como Descobri que não Existo – contos; 4 – Olímpio Bonald, com Tango e Reggae – contos; 5 – Maria de Lourdes Hortas – Caixa de Retratos, - romance – Regine Limaverde /CE – Se me Contas, eu Conto – contos... Enfim a coleção já está com dez obras traduzidas e publicadas. Todos elas traduzidas por uma equipe de professores da Universidade de Buenos Aires, que estudaram ou viveram no Brasil.

Afora isso preparei, com seleção, apresentação e nota a “Panorâmica do Conto em Pernambuco”, que saiu em parceria com Antonio Campos pela Escrituras/SP IMC/Recife, 2008, lançado na FLIPORTO.

Se o amigo/jóia/irmão pretender saber mais sobre os meus rastros, visite à Internet: “Cyl Gallindo escritor e jornalista pernambuco”. Tem coisa pra dedéu. Eu confesso que sou meio ruim em relação a Internet, embora já escreva diretamente nesta máquina.
Uma coisa, porém, que me enche de alegria é retomar o contato com você /vocês. Vocês fazem parte daquela turma dos antigamente: Manuel Bandeira, Nélida Piñon, Joaquim Cardozo, Luiz Luna, Leandro Konder Reis, Carlos Nejar, com espaço próprio no coração.

Veja este recente acontecimento sobre velhas e queridas amizades:

Com meu abraço fraterno,

Cyl Gallindo




MANUEL BANDEIRA
40 ANOS DEPOIS


(Ao chegar o irrecusável convite da ABL, para memorar os 40 da morte do Poeta: 13-10-1968, membro da Academia desde 1940, quando substituiu Luiz Guimarães Filho)



Importantes revelações sobre a personalidade do Poeta Manuel Bandeira, como o sentimento de “pernambucanidade”, o caráter humanista, o profundo conhecimento literário, os relacionamentos amorosos e até comportamento doméstico, foram feitas pelo seu amigo e escritor Cyl Gallindo, em depoimento exclusivo para a Revista Brasileira, da Academia Brasileira de Letras. Fase VII – Outubro – Novembro – Dezembro 2008 – Ano XV – No. 57.

O convite do Acadêmico Antonio Carlos Secchin, da Comissão de Publicações da Academia, veio por intermédio da escritora Elvia Bezerra, pesquisadora de Literatura Brasileira e autora do livro A Trinca do Curvelo: Manuel Bandeira, Ribeiro Couto e Nise da Silveira, em colaboração com Monique Cordeiro Figueiredo Mendes, Coordenadora das Publicações da ABL.

Inicialmente, Cyl Gallindo confessa que inúmeras pessoas, inclusive Carlos Drummond de Andrade, Waldemar Lopes, Plínio Doyle, sugeriram ou pediram-lhe para escrever sobre sua convivência com o autor de Itinerário de Pasárgada, e ele relutava.

Gallindo temia ser acusado de usar amizades para promoção pessoal. Livre do temor, ele relata sua mudança para o Rio de Janeiro, sua aproximação com o Poeta, que se deu porque o autor de Estrela da Manhã “queria matar as saudades desse sotaque safado do Recife, que você o tem, bem genuíno”. Revela os cuidados que Bandeira mantinha para não transmitir a outrem a tuberculose de que foi vítima; como era a vida dentro de casa, seu interesse pelas mulheres, (de quem recebia visitas frequentemente); como foi apresentado pelo Poeta a Jorge Amado e Guimarães Rosa. Os amigos que Bandeira cultivava no Recife, como Gilberto Freyre, Gilberto Osório, Mauro Mota, Stella Griz/Ascenso Ferreira, e muitos outros detalhes singulares constam nas 16 páginas da Revista, com seu artigo sob o título: LÁ FUI AMIGO DO REI.

No mesmo volume da Revista, Marcos Vinícios Vilaça comemora os 110 anos da Academia Brasileira de Letras; João de Scantimburgo e Adriano Espíndola enfocam Guimarães Rosa, ao completar 100 do seu nascimento; Elvia Bezerra fala de Jayme Ovalle: o homem que conhecia “a temperatura da alma"; Arnaldo Niskier, de Liberdade de expressão, Ledo Ivo está com uma narrativa; Ivan Junqueira, Luiz de Miranda e Reynaldo Valinhos Alvarez publicam poesias e Anderson Braga Horta, praticamente fecha a publicação, com as traduções dos poemas do espanhol Rodolfo Alonso.

(Comunique-se pelos e-mails: publicacoes@academia.org.br e
Consulte o site: http://www.academia.org.br )
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*Cyl Gallindo, poeta e contista permanbucano, autor de vários ensaios e estudos da maior importância para a história e a sociologia brasileira. Mora em Recife-Pernambuco. Email: cylgallindo@yahoo.com

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