sábado, 1 de novembro de 2008

NOSSA FILOSOFIA OU A DELES?



Francisco Miguel de Moura*





É possível dizer como certa verdade que o mundo está globalizado na economia (melhor nas finanças) e nos meios de comunicação. Daí a dizer-se que o neoliberalismo tal qual se prega hoje é globalização, vai uma distância enorme. Na filosofia e nas artes, por exemplo, nada mais particular do que a arte, seja falada, escrita, pintada, esculpida, representada etc.

Quanto à filosofia, no mínimo, o mundo está dividido em duas grandes formas de entender e pensar a vida, a matéria e o espírito: o mundo ocidental e o mundo oriental. Aliás, melhor seria se disséssemos os mundos orientais, porque a Índia é um; a China, outro; o Japão, outro mais. E seria um nunca acabar de regiões e países, onde a religião mistura pensamento, palavra e ação, embora sejam sentidos lampejos de cada um. Segundo o “I Ching”, que surgiu antes da dinastia Chou (1150-249, antes de Cristo) diz que “não há o que mude; há o mudar. A mutação caracteriza o ser mundo”. Luzes dessa filosofia já estão no ocidente. Jung não faz diferença entre espírito e matéria: “um e outro têm a mesma substância”.

Ainda hoje conversando com um amigo filósofo, expendi a opinião de que nós ocidentais professamos um credo, uma fé, um desejo, enfim, pensamos, mas não falamos nem agimos de acordo com o nosso pensamento, nosso “ser”. Aqui, o razão é uma coisa, o emocional/sentimental é outra. Lá no oriente, a existência é pautada pelas crenças milenares e seus protagonistas vivem intensamente o que crêem.

Daí, tachamos uma parte do islamismo árabe de fundamentalista. Mas há fundamentalismo aqui, também. Nada me diz que a política norte-americana de hoje para o mundo não é fundamentalista, apesar de Bush ser “cristão”. Os excessos se tocam, têm razão os fazedores de provérbios.

Na China, no Japão, a verdade é a verdade com alma, com ardor, com vontade e ação, unificando alma e corpo em cada existência. Por isto eles têm menos conflitos que nós: eles são mais tranqüilos. Um dos nossos poetas diz, em verdade, que “a história do poeta é também a história de suas perplexidades” (Jorge Luís Borges). Quando Confúcio disse: “É inútil falar de si próprio, pois se fala de mal, todos vão acreditar, e se fala de bem ninguém acreditará”. Pessimista, moralista, existencialista? Filosofia.

No ocidente, quando dizemos “fale, para que eu te conheça”, estamos querendo significar também que todos nós mentimos quando há um interesse prático à nossa frente, a nosso respeito. Quando se diz isto ou aquilo, pode jurar que não é, nunca foi, nem será: o projeto é outro. A acareação entre dois criminosos é para pegá-los em contradições. E daí tirar conclusões nem sempre justas. Nossa filosofia é de contradições.
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*Escritor brasileiro, membro da Academia Piauiense de Letras, mora em Teresina - Piauí

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