segunda-feira, 13 de outubro de 2008


OS PALADINOS DO VALE

Firmino Libório Leal*

Todo ano, sistematicamente, venho ao Piauí. No ano de 2000 não poderia ser diferente. Cheguei num domingo, após cansativa viagem. Logo na segunda-feira cedo, célere, parti para o meu primeiro objetivo, que era cumprir um ato de fé na Igreja Matriz de Nossa Senhora dos Remédios. A ansiedade preenche todo o meu ser. Um percurso desses se faz a pé para termos contato com o povo e com o chão sagrado deste rincão, berço maior. De repente, como num filme, surgem na nossa tela mental cenas dos verdes anos da nossa adolescência, quando percorríamos esses caminhos e cruzávamos essas fronteiras.

Logo no início me deparei com uma situação desanimadora. Lá estava ele, o velho e bondoso rio Guaribas: podre, sujo, imundo. Sobre uma lama avermelhada lá estavam dois dormentes de madeira e, como equilibristas circenses, os transeuntes faziam a travessia. Com tristeza me lembrei de quando por ali descia água limpa e pura em busca do Ribeirão maior.


Segui. E o meu primeiro objetivo era alcançado: lá estava ela, majestosa, linda, imponente, a Igreja Matriz, onde com determinação cumpri meu ato de fé. Uma vez cumprida a missa segui para o segundo objetivo e o alcancei. Numa galeria comercial fui gentilmente recebido pelo Fábio Gonçalves, o qual, hospitaleiro e cordato, me contou dos seus anseios, seus projetos e objetivos. Pus-me assim a refletir a respeito daquele jovem entusiasta. Quando muitos da sua idade procuram o ócio, lá estava Fábio na luta desigual do dia a dia, luta de quem dirige um jornal do interior. A cada instante a emoção crescia e tomava conta de mim.

Parti então para o meu terceiro compromisso, que era rever um grande amigo dos anos de glórias do Colégio Marcos Parente, tratava-se do Dr. Ozildo Batista de Barros, jurisconsulto de valor incomensurável, com quem tive a honra e a satisfação de estudar nos “verdes anos sessenta”. Com fidalguia, fui recebido por seus familiares na sala de espera do seu escritório. A cada instante que passava, como num filme, lembrei-me de como Ozildo, aquele moço que chamávamos de “Ozildo das Abóboras”, ainda adolescente, já demonstrava seus dons e fazia uso da oratória, tomando para si as dores dos mais fracos e oprimidos.

Enfim, chegou o grande momento! Após os agradecimentos pela honraria de ter recebido um exemplar de seu belo livro “ETC & E TAL”, fiquei a ouvi-lo pasmo. Não nos víamos havia quase trinta anos. O tempo passando num ambiente que envolvia fraternidade e admiração mútuas. Ozildo também me falou sobre sua vida. Ozildo é daquelas pessoas que professam: “minha opção de vida é ao lado dos mais fracos” ou “ninguém aprende sem mestre”. Diante de tantas coisas para aprender, pouco tive para falar. Fiquei a ouvi-lo, sem me dar conta de que já passava das 13 horas. Para nós, aquele encontro foi como um bálsamo confortador.

Tomado por um milagroso fortificante e carregado pela bateria da emoção, parti para o meu quarto e último objetivo daquela data inesquecível. Prossegui meu caminho, e logo no portal de entrada de um estabelecimento comercial me deparei com um jovem debruçado sobre uma máquina de escrever. Aproximei-me silenciosamente: lá estava o poeta Vilebaldo Nogueira Rocha, escrevendo o poema alusivo a “Da Costa e Silva”. Apresentei-me um pouco embaraçado e admirado de ver um moço no florir de sua jovialidade e no corre-corre do mundo globalizado, ali suavemente a escrever poesia. Naquele instante recebi o honroso convite para assinar a ficha-proposta de filiação à União Picoense de Escritores, fato que me encheu de satisfação e orgulho. O sol, entretanto, já declinava entre as montanhas que rodeiam a querida Picos e anunciava o crepúsculo daquele maravilhoso dia. Ao me aproximar do meu antigo lar, refleti sobre o quanto Fábio, Ozildo e Vilebaldo são importantes para minha terra.

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(Do livro “Vozes da Ribeira”, de Firmino Libório Leal, edição do Autor, Picos, PI, 2008.)

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*Firmino Libório Leal, funcionário público, cronista, radialista, nasceu em Bocaina-PI, em 20-2-1955, reside em Conquista-MG. Fone: (34) 3353-1135. E-mail: liborio.leal@gmail.com

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