quarta-feira, 25 de junho de 2008

LETRAS, LETRADO, SOLETRAR

Francisco Miguel de Moura *

O significado de soletrar quem sabe é o Aurélio. Abra-o e verá o principal: “Ler pronunciando separadamente as letras e juntando-as em sílabas”. A rede Globo de Televisão prima em colocar em circulação pronúncias e significados com erros e afirma que, assim, está contribuindo para a cultura. Eu digo secamente: – É enrolação! Ela ensina que soletrar é pronunciar letra por letra da palavra e ainda faz concurso para ver quem sabe mais as letras. E diz que isto é soletração. Letrado é quem sabe ler. Letrar é escrever as letras agrupadas em sílabas que se aglutinam em nomes. As línguas são feitas de palavras e frases com significação. A tevê Globo, no seu concurso de soletração, ignora as sílabas, pulando para as palavras. É como saltar um degrau da escada. Os programadores da Globo não leram ou o fizeram pela metade, daí mandar seus repórteres e apresentadores pronunciarem “cirquito” em vez de circuito. Horrível!

No interior, onde aprendi a ler com o Mestre Miguel Guarani, meu pai, professor de muitas gerações de picoenses, os meninos e marmanjos iam pra escola para aprender a ler e contar em 3 meses, no máximo. Era assim: começava-se pela carta de ABC, reconhecendo as letras de cor e salteadas; depois se ia para a carta de sílabas – o BEABÁ; – e em seguida para a carta de NOMES. Só depois é que vinha a leitura (e a escrita) de cartas. Na aritmética, depois de aprender as 4 operações, entrava-se para proporção, regra-de-três e juros.

Nossa língua é formada pelas palavras (nomes) que são a junção e acomodação de sons e sílabas, na formação das frases e dos significados. Soletração é muito pouco para chegar-se a ser um homem letrado. Letrado é quem lê, não apenas quem aprendeu a ler, pois hoje há pessoas que aprenderam a ler, mas fazem questão de ignorar a leitura. Signifca desaprender o que aprendeu. Ou seja, ler cada vez pior. E “quem mal lê, mal ouve e mal vê”. E quem não lê, tudo o que sabe é “por ouvir dizer”. Seduzido pelos políticos pode até aprender a “ferrar” o nome, mas se arrisca a assinar documentos comprometedores. E daí, já se viu, é como no dito popular:

“Escreveu e não leu, o pau comeu”. Por isto, pelo menos nesta crônica, o pau está descendo nas costas dos diretores, programadores e redatores da Rede Globo.

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*Francisco Miguel de Moura, Escritor brasileiro - Membro da APL e da UBE, mora em Teresina, Piauí.

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