sexta-feira, 25 de abril de 2008

REVOLUÇÃO, PODER E INTELECTUALIDADE


Francisco Miguel de Moura*


Há duas maneiras de lutar pelas causas sociais: de dentro do poder (fazendo as reformas) ou de fora dele (fazendo as guerrilhas, as guerras e os golpes de Estado). A experiência brasileira recente é rica nesse assunto. Depois dos movimentos político-sociais dos anos 60/70 do último século, restou-nos a alternativa de lutar de dentro do poder (dentro do Estado, do Governo), o que significa lutar de dentro da lei. Fora da lei lutaram os que se insurgiram contra a “revolução de 64” e o fizeram até entrar em vigor a Lei da Anistia. Mas naquele tempo havia um caldo de cultura internacional, incentivado pela União Soviética, para que os movimentos tivessem uma conotação esquerdista. De toda forma, o capitalismo era contestado na teoria e na prática.

Mas o desenvolvimento humano não tem limites, é sempre crescente. As ciências evoluíram enormemente no século XX. Hoje se pode dizer que a bipolaridade capital X trabalho, que dava alma às guerrilhas e aos movimentos sociais, já não existe, pelo menos na intensidade dos dois séculos anteriores. Os robôs e os computadores fazem tudo admiravelmente bem. Assim, as teorias marxistas tiveram uma baixa de cotação enorme, mesmo nos países como China, Cuba e Coréia do Norte, onde o socialismo de Estado sobrevive.
Apontamos uma bipolaridade. E as dicotomias são esquemáticas, podem falsear o real. Aqui, ocorre-me uma terceira alternativa. Os artistas e intelectuais formam um terceiro time da estrutura inicial. Sua revolução pode ser de dentro e/ou fora do poder. Todo verdadeiro artista é revolucionário e, de alguma maneira, também os cientistas. Fazem eles uma revolução diferente, contestam pela arma dos sentimentos e conhecimentos, da palavra (literatura, oratória, jornalismo), da voz e do som (música), dos aspectos visuais (artes plásticas), da dança, dos audiovisuais. Talvez mais segura, mais humana e mais duradoura. A história confirma que esses movimentos sociais na arte acabam, mais cedo ou mais tarde, integrando-se à sociedade geral, seja numa democracia ou num governo ditatorial, pelos que sobem ao poder depois dos golpes, guerras, guerrilhas, etc. Dos movimentos que se registraram nos anos 60/70, artistas como Geraldo Vandré, Oscar Niemeyer, Glauber Rocha, Gilberto Gil, Caetano Veloso, Chico Buarque, Vinícius de Moraes, Torquato Neto, Mário Faustino, Jorge Amado, Graciliano Ramos e tantos outros foram revolucionários na sua época. Hoje, suas obras se encontram incorporadas ao patrimônio cultural do Brasil, referenciadas e consumidas indistintamente por idealistas e conservadores, assim como pelo povo de modo geral. Gilberto Gil, como vimos, chegou a Ministro.
Desta perspectiva, o poder é a soma e a depuração de todos os pensamentos e ações que dão vida e movimento à sociedade, sendo extremamente necessário o cuidado de não se entregar totalmente a ele, ficar de olhos abertos para os seus desvios, as suas malícias. Que a sociedade seja sempre a fiscalizadora, pois, no fundo, ela é quem mantém o poder. Eis aí a revolução permanente que desejamos: Democracia.
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*Francisco Miguel de Moura, escritor brasileiro, membro da APL, da UBE-PI e UBE-SP, mora em Teresina, Piauí. E-mail:franciscomigueldemoura@superig.com.br e você o encontrará também na web:http://www.franciscomigueldemoura.blogspot.com/ cirandinhapiaui.blogspot.com/usinadeletras, wikipedia e outros sites.

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