terça-feira, 22 de abril de 2008

CARTA DE PONTA PORÃ-PR, 15/03/2008


Jornalista e poeta
Luís Fernandes da Silva*

Querido amigo, perdoe a demora nas respostas. Eu estava viajando, fiquei dois meses em Campinas fazendo tratamentos, meu coração já não é o mesmo, infelizmente. Após a Semana Santa voltarei para repetir dois exames, caso me liberem, voltarei brevemente; se não, terei que ficar por lá mais um ou dois meses acredito. Tenho uma irmã em Campinas. Mas vamos falar do que interessa.

Sua poesia é mais rica em metáforas, é diferente da minha, é mais ritmada, mais formal e por isto melhor. Eu, não sei por que, deixo sempre um pouco de lado os padrões formais. Procurando sempre um significado, vou passando por cima de algumas regras entre a prosa e a poesia e vice-versa.

Sua metáfora é inteligente. Tem um significado profundo e o pensamento o esclarece sem grande esforço. É a metáfora com um ritmo que poucos conseguem retirar com poesia tão elegante. Parabéns por isso. Seu poema “Levita(cão)” é fortíssimo e significativamente belo nesse sentido que o observo.

Pois é, meu amigo, a poesia é uma guerra pessoal. Lutamos com os nossos fantasmas tentando matar o que não tem morte, acordando palavras que não adormecem em nossas almas.

Jamais viveremos dessa nossa poesia, jamais seremos isto ou aquilo com as nossas poesias, não somos políticos e nem embaixadores, vivemos no Brasil. Mas vale a pena escrevê-las, mesmo mandando livros a muitos e recebendo respostas de poucos, vale a pena.

Um exemplo: Lendo o seu grandioso “Correio de Poesia”, de João Pessoa, PB, onde você mora, observei as reclamações do grande poeta piauiense Francisco Miguel de Moura dizendo do abandono da mídia em que vivemos. Disse bem, é isso mesmo, a mídia não está nem aí para todos nós. Como ela se desenvolve alopradamente aos arredores do poder e das falsas glórias desse novo mundo perdido, dificilmente se voltará para outros valores

Assim, eu acredito que o meio é mais importante que a mídia. São a mesma coisa, significam o mesmo, com a diferença que dele é que nasce o espaço para que nela se expanda para o mundo.

Por isso, eu o valorizo tanto, meu bom amigo. Seu “Correio de Poesia” é melhor que tudo; dele, muitos colherão bons frutos. Você é o meio saudável, o meio que me refiro com os seus clamores poéticos, o meio indo às distâncias mais longínquas com resposta a muitos do que é preciso ser feito e valorizado. A grande mídia precisa ser esquecida por todos nós. Ela não é mais o meio, o nosso meio. Ela quer saber se o príncipe bebeu ou não, com quem ele está namorando, ou se a rainha acordou com mau humor ou não. Ela quer saber da moda, da estética, da aparência falsa de um mundo velho que se esfarela a cada dia aos olhos de todos. Se eu continuar, vou à China e volto ao Brasil duzentas vezes sem parar. Rsss.

Vou parando para não lhe escrever uma Bíblia inteira. Escreverei mais ao amigo assim que eu voltar, suas cartas fazem bem ao coração e à alma de quem escreve.

Um forte abraço de um dos seus melhores amigos e que será o mesmo sempre.

As) Arine de Mello Jr.
Nota: Mora em Ponta Porã, PR e escrever poesias. Carta datada de 15-3-2008.
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*Luís Fernandes da Silva, poeta de elevada inspiração, mora em João Pessoa-PB, onde mantém o alternativo-mimeografado "Correio de Poesia" e espalha para o todo o Brasil e exterior.

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