quarta-feira, 5 de março de 2008

A FLOR DA MADRUGADA


Cristino Cortes*


Na ainda madrugada planto uma flor.
Rego-a com os resquícios do sono, de água
Lhe serve o gosto com que aqui estou
Satisfação de calmo fruir o que se achou...


É como uma balança, medindo o calor
Do dia que passou, a potência e a mágoa
Do que não foi mas poderia ter sido
- Como alguém que não amou por se ter esquecido...


Das nuvens lhe vem o seu íntimo rebento, nem há
Outro sítio para nascer a música de uma flor;
Ao espelho, qual crisálida em vago vapor
Progressiva vai perfumando, pouco mas já.


Flor da madrugada que assim me salva o dia
Comigo permanece, em círculo a alegria.


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*Cristino Cortes, poeta português, mora em Lisboa. Do livro mais recente de sua autoria, "Música de Viagem", retiramos este soneto, de uma sonoridade singular que nos encanta.

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