quarta-feira, 12 de março de 2008

ENTRE OS BONS, OS MAUS...


Francisco Miguel de Moura
Membro da Academia Piauiense de Letras

Há dias em que quase fico como o Pe. Inácio (Marcos Caruso), de “Desejo Proibido” (novela que está passando na TV Globo). Ele diz aos seus paroquianos – principais personagens da novela – complicados em seus amores: “Meus filhos, com tanta confusão de vocês, já não sei mais o que é certo e o que é errado. Meu Deus!” Entretanto, mesmo sem a rigidez dos “moralistas de plantão”, a bondade e a maldade existem, não temos que ter medo de analisá-las, especialmente com relação ao homem social. Porque o homem, no seu natural, seria uma fera acuada contra as demais feras. Mas o homem social deve ser medido porque, na sociedade, existem justiça e injustiça, amor e ódio, piedade e crueldade, uma cadeia de oposições interminável. São as religiões que mais cuidam do pecado e da virtude, do permitido e do proibido, depois delas a sociedade civil para indicar o que é legal e o que é ilegal, o justo e o injusto. A filosofia trata especialmente da ética, onde há uma série quase interminável de pontos que medeiam os extremos, de tal maneira que nunca sabemos exatamente onde termina o mal e começa o bem, embora distingamos praticamente um do outro.

Mas o que me chamou a atenção para escrever sobre este assunto, diga-se logo, foi a matéria de capa duma revista “Galileu” (de fevereiro), com o título de “O QUE NOS TORNA BONS OU MAUS”, estampando um rosto humano dividido ao meio, com o Gandi no lado direito e o Hitler no esquerdo, duas personagens da História, líderes, condutores de homens, que agiram moral e eticamente em sentido contrário: o Bem e Mal. A matéria da revista, conduzida pelo jornalista Salvador Nogueira, dá a quase certeza científica de que o senso de justiça e a compaixão não vêm da educação ou da religião. Seriam frutos da seleção natural e da evolução humana (olhe, aí, Darwin ressuscitado, e um pouco Rousseau). O texto começa com uma pergunta: - “Se uma velhinha leva um tombo no meio da rua, devemos ajudá-la a levantar-se ou tirar um sarro da cara dela?”

Alguém me diz que “não suporta assistir a tais fatos sem dar umas boas risadas, pois o homem sente prazer em ver alguém sofrer, não se vê na arte? As piadas são sempre batendo em alguém ou incentivando os preconceitos”. E eu respondo: – O humor é uma arte e quando, numa sessão de teatro, se apresentam situações tragicômicas é com a finalidade de ensinar pela catarse como se deve agir e não simplesmente insinuar que as pessoas devem copiar a arte. Arte é substituição não simples imitação, tanto que ela deve ser criada. Já a publicação citada acrescenta que “cresce a convicção de que em muitas espécies animais observam-se exemplos de altruísmo, de bondade”, reforçada pelos casos observados em símios e outros mamíferos. Embora, segundo esses experimentadores, tudo tenha origem no DNA, eu digo: – Nada impede que o homem nasça com liberdade de usar seu pré-destino ou deixar de fazê-lo. Somente alguns doentes mentais que não possam distinguir o bem do mal, embora saibam o que é belo e feio, seriam as exceções. Daí que a arte precisa observar o seu dever de eticidade, vindo, assim, a combinar a herança do DNA com a moral social.

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