terça-feira, 18 de março de 2008

CHAGAS VAL - POETA FALA A POETA


Carta ao poeta

Francisco Miguel de Moura


Caríssimo Poeta:


Ainda sob o impacto dos rutilantes versos da sua ANTOLOGIA, escrevo-lhe com a emoção de quem percorreu caminhos de luz e quase se perdeu nos meandros das palavras e nas vertiginosas curvas das estrofes, notadamente nos sonetos, que são o que de melhor existe no livro, embora me encantem sobremaneira os poemas curtos porque são a síntese de sua singular poética e a marca registrada da grande poesia de Francisco Miguel de Moura.

A poesia nos dá alento para viver. E você, por causa dela, viverá muito e escreverá novos livros plenos de emoção e de beleza, que nos encantarão a todos que o admiramos e o amamos exatamente pelos candentes poemas que urde em sua magnífica oficina, onde as palavras têm cintilações de lapidados diamantes, onde a cadência, o ritmo dos versos nos embalam. E eles nos encantam como inusitadas sinfonias.

As rosas estão intactas em suas pétalas ainda fechadas e nós queremos dissecá-las no afã de cultivar nosso jardim, e isso é o ofício dos poetas: buscar a luz e o perfume das flores para amenizar saudades e dores de um paraíso para sempre perdido, embora que, anelantes, o busquemos como Proust, e nos detenhamos diante de uma xícara de chá para nos perdermos “em busca do tempo perdido”, onde só a memória e as palavras hão de recuperá-los.

Não saí ainda da galáxia de Gutenberg, e a internet para mim é inacessível como a quadratura do círculo. É como se tateasse nas trevas querendo decifrar o enigma da Esfinge, isto porque a tecnologia moderna me é estranha e indecifrável com seus celulares e computadores. Acho, poeta, que obsoleto como sou, eu deveria ter nascido antes da Revolução Industrial, pois como Proust até o telefone me incomoda.

Entretanto, o que interessa mesmo é a poesia, a palavra dessa lavoura constante como a aurora. Ela nos desperta com pássaros e canções, num abismo de luz, a incendiar os canaviais da manhã. E, quando despertamos, espantados, vemos que os sonhos são apenas sonhos e a realidade nos dói como punhais, e a luz explode ante nossos olhos atônitos ou quase cegos.

Sempre que puder, escreva-me. Suas palavras são um estímulo. Apesar de praticamente não nos conhecermos, sinto uma grande admiração e estima por sua poesia, extensiva à sua pessoa.

Com o abraço do

CHAGAS VAL*

São Luís (MA), 15/02/2008

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* Francisco das CHAGAS VAL, poeta brasileiro, nasceu gente/menino no Piauí; mas como poeta é bem maranhense e dono de um estilo tão agradável quanto leve e profundo em seus mistérios
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Um comentário:

Anônimo disse...

Esse poeta Chagas Val, ainda anônimo na literatura brasileira, precisa ser descoberto. Lamentavelmente a midia se presta a divulgar umas babozeiras produzidas no sul maravilha. Assim, talentos de grande estirpe, como Chagas Val, ficam confinados em suas regiões. Parabéns ao Piauí (pelo nascimento) e ao Maranhão (pela formação) por ter dado ao Brasil esse grande poeta.

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