UM QUADRO, QUASE AMOR
Francisco
Miguel de Moura*
Jura(va) a si, mas não jurou a mim,
Pobre e sedento para o seu amor,
Tão d’olhos negros e morena pele
Abrasada de sol pela janela,
Um sol tão necessário - de verão,
E, mais linda, você transparecia.
Se teus olhos enganavam (como sei?),
As tuas mãos entrelaçando as minhas,
Me diziam que não e não, e não!
Quente era o seu fogo e meu odor
Que, tão rápido esvaiu-se qual um sopro
Como um raio riscando a minha vida...
Tímidas palavras ciciantes, sim,
Doces, tão doces me inundaram a alma
E subiram-me aos olhos apertados,
E só quase um momento, e se apagaram,
Quando espocou, em força de vulcão,
Da boca de um alguém que lhe guardava.
Dois corações ali sobressaltados
Como esqueletos bem por trás do medo
das armas de teu pai, de teu irmão.
Hoje, depois de tantos anos meus,
não esqueço o tal beijo fugidio,
quase cheiro... Era pouco e me deixou
em mim e em ti, talvez (quem sabe?)
a cicatriz do que não pôde ser.
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*Francisco Miguel de Moura, poeta brasileiro, sim, senhor..

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