terça-feira, 18 de novembro de 2025

 


UM QUADRO, QUASE AMOR

                        Francisco Miguel de Moura*

 

Jura(va) a si, mas não jurou a mim,

Pobre e sedento para o seu amor,

Tão d’olhos negros e morena pele

Abrasada de sol pela janela,

Um sol tão necessário - de verão,

E, mais linda, você transparecia.

 

Se teus olhos enganavam (como sei?),

As tuas mãos entrelaçando as minhas, 

Me diziam que não e não, e não! 

 

Quente era o seu fogo e meu odor

Que, tão rápido esvaiu-se qual um sopro

Como um raio riscando a minha vida...

 

Tímidas palavras ciciantes, sim,

Doces, tão doces me inundaram a alma

E subiram-me aos olhos apertados,

E só quase um momento, e se apagaram,

Quando espocou, em força de vulcão,

Da boca de um alguém que lhe guardava.

 

Dois corações ali sobressaltados

Como esqueletos bem por trás do medo 

das armas de teu pai, de teu irmão.

Hoje, depois de tantos anos meus, 

não esqueço o tal beijo fugidio, 

quase cheiro... Era pouco e me deixou

em mim e em ti, talvez (quem sabe?)

a cicatriz do que não pôde ser.

_____________

*Francisco Miguel de Moura, poeta brasileiro, sim, senhor..

 

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