segunda-feira, 20 de fevereiro de 2023

 


                        NONATO CIPRIANO E SEU EXÍLIO

                                                                             Por Francisco Miguel de Moura*

          O poeta Nonato Cipriano nasceu em 06 de agosto de 1968, na cidade de Itaueira, interior do Piauí. Aos seis anos de idade, sua família, teve que mudar-se para São Luís (MA). A infância cortada ao meio foi uma transformação quase traumática. E como é natuaral, levou muito da paisagem e da beleza da terra do seu nascimento. E possível que já nascera com a inclinação para a poesia. O fato alimentou-o mais ainda. Chegando a idade mais consciente, é natural que tenha lido Gonçalves Dias e Casimiro de Abreu, como se nota nas suas referências.

          Mas só agora sai o seu primeiro livro. “Meu Exílio”. E é necessário que se diga, já nasceu maduro. Assim é que os poetas de juízo fazem. E é bom que se diga, pra não esquecer, que dos poetas citados lhe ficaram apenas o tema e aqui e acolá umas pequenas tintas, o que é notável no estreante de poesia. Assim aconteceu comigo, pois em “Areias”, sutilmente aparecem algo que lembra Drummond. Tudo isto é muito bom, pois já demonstra um estilo nascente, mas seguro, apenas com o sentimento guardado por tanto tempo.

          Como disse, sua estreia em “Meu Exílio”, mostra um estilo bastante individual e uno, com segurança no uso do nosso precioso idioma e com uma técnica de lirismo renovado, diferente de tudo que já houve no passado literário piauiense e brasileiro. Paisagista, sem exagero ao expor suas lembranças da tenra infância e o sentimento de amor à terra, à gente, ao clima, à habitação, ao trabalho que fazia dos seus pais...  Seu coração batia forte. Excelentes são os versos iniciais do livro: Poema 1978”: Mesmo que me arranquem / As raízes de tua leiva / E        removam com o éter /Teu cheiro de minhas narinas...” Para terminar assim: “Ainda assim serei teu / Filho amado e gentil /Que há de morrer por ti / Oh terra madre querida!”

            Apesar de nascido numa terra em que a poesia popular campeia, ele não cede ao comum, inventa seu ritmo, do princípio ao fim do livro. Mas   vamos lá adiante, ao poema “Umbuzeiro”: Colore-me / Com a luz de tuas arestas / Deixa os perfumes florais / Eclodirem as lembranças / Dos dias de minha infância” Para terminar assim: “Deixa-me / Reinar teus hemisférios / Para entender os mistérios / Que abrem minhas janelas / E sopra o cheiro do inverno”.

          Que belas imagens, que bonitos versos, que linguagem tão limpa!

          Poderia citar muitos outros poemas, mas, na verdade, seu estilo segue constante. São fortes, sofridos, mastigados de saudades como se saíssem com o gosto acridoce do caju, uma delícia para os meninos do seu tempo. A linguagem reflete bem o estado de espírito do poeta no momento em que se carrega de palavras, rimas e estrofes, explodindo como as primeiras águas dos nossos riachos e rios.

          Mas não somente as paisagens, o que existe fora, está o seu modo de escrever poetizando, pela forma como saem os seus sentimentos, pressente-se que estão arraigados na consciência e na alma deste exilado por força das circunstâncias familiares. Entre suas ferramentas de linguagem, estes encontros e desencontros da vida vicejam e produzem versos de dor e de prazer. Se assim digo é porque sei que o poeta não escreve somente por prazer. Porém, uma vez o poema acabado, claro, ele sente o prazer da criação.

          Não precisamos ler tanto, pois os poemas citados são apenas uma forma de comprovação crítica. Em todo o seu livro encontra uma clara riqueza de palavras e expressões pouco encontradas em outros poetas. Com isto, quero dizer da sua feição poética, cheia de beleza e singularidades.

          Embora tratando-se de sua estreia, já se pode imaginar a quanto chegará o poeta Nonato Cipriano. Em outro poema, a expressão “quando meus olhos neblinam”, numa imagem tão simples e terna que não sei como não gostar de sua poesia. Por fim, chegamos ao grande poema (não só no tamanho) de nome  “Viagem para um lugar distante”,   digno dos  grandes poetas líricos, sem mácula, original e brilhante, a quem remeto o leitor, antes de quais quer outros.

          Que estas  palavras sirvam de alento, mas não só isto; sirvam também de sinal de tropeços que podem acontecer aos poetas. É não desistir jamais, alinhando a sua lira ao seu “eu”, que é capaz de fazer milagres na hora do versejar.

          Nonato Cipriano, você venceu a primeira viagem poética. E certamente vencerá no futuro. Quem bem se estreia, abre o caminho.  E o caminho é seu. Vamos fazer o que muitos desejam e não podem. E o que alguns podem, mas não fazem. Que a poesia é o melhor pão (espiritual) de cada dia. Pois os poetas conversam com Deus.

_______________

*Francisco Miguel de Moura, poeta e crítico brasileiro, mora em Teresina, a bela capital do Piauí.      

5 comentários:

Anônimo disse...

Nonatinho, seus poemas relatam uma época pouco conhecida mas muito feliz. Vivência que hoje as crianças não conhecem.

Anônimo disse...

Concordo.
São poemas escrito com ardor. De um tempo bom, apesar das adversidades.
Obrigado.

Anônimo disse...

Parabéns ao poeta Nonato Cipriano, que, como disse Chico Miguel, já nasce grande, e ao próprio autor deste texto, pela brilhante análise literária que empreendeu.

Anônimo disse...

Obrigado

Anônimo disse...

Obrigado.

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