quinta-feira, 23 de julho de 2015

COMO SÃO BENS PÚBLICOS E PRIVADOS – HOJE

Francisco Miguel de Moura*        

           “A panaceia política de hoje é a iniciativa privada” - isto eu escrevi há alguns anos, acredito que no governo do Fernando Henrique Cardoso. 

        Mas é preciso entender bem o que é iniciativa privada, o que é capital e como se forma. Precisamos ter sempre presente que não existe um remédio para todos os males. Não é acabando com os bens públicos que vamos consertar o Brasil. Ao contrário, é sabendo administrar esses bens, é criando vergonha - isto que eles, os políticos, não têm. A minoria dos que tem caráter e coerência não apaga as manchas enormes de vícios e crimes daqueles, contra o patrimônio público e do país, tudo pelo egoísmo de ficar rico, gastar à tripa forra, mandar dinheiro para exterior, de praticar o nepotismo. Eu considero o costume da desbragada criação de ministérios, secretarias, enfim, de cargos públicos a torto e a direito, em todas as esferas, como fazem hoje, seja igual ou pior que o nepotismo que os políticos de ontem e de hoje usam. Há também uma ânsia do poder, desonestamente pensada e por isto procurada, de ancorar-se numa lei casuística, para proteger os “pobres” - dizem.  

           Pra não dizerem que só sei falar mal, vou citar exemplos de homens e políticos de caráter, no nosso meio. Celso Barros é um destes. Grande jurista, orador (nosso maior orador vivo), escritor, professor universitário, advogado, foi Deputado Estadual (cassado pela Ditadura de 1964) e Deputado Federal por duas vezes. Ele sabe ganhar dinheiro honestamente e honestamente dispensar as custa daqueles que são pobres, a maioria de nossa população, quando lhe procuram para defesa dos seus direitos.  Lembro que tenho em mãos a revista “Cirandinha” nº. 5, de maio de 1980, em que o Dr. Celso Barros Coelho concede entrevista a mim e ao poeta Rubervam du Nascimento – quando então fazíamos esta publicação. Nosso critério, na mencionada revista, era retratar a situação política e social com a vivacidade e criticar os maiores e menores lances e deslances dos que se diziam condutores da história. A pergunta de Rubervam foi esta: -“Conte-nos como foi o seu ingresso na Universidade, uma vez que sendo professor por concurso, passou tanto tempo sem lecionar lá?” E a resposta do grande Celso Barros, graças a Deus ainda atuante no jornal e na Academia Piauiense de Letras, foi esta: -“Ingressei na Universidade, antiga Faculdade de Direito, por concurso público. Esse direito, porém me foi negado por um Reitor forasteiro – Hélcio Ulhoa Saraiva, contando com a conivência de alguns colegas meus. Em face da violência cometida contra o meu direito, bati às portas da Justiça, para conquistar o lugar que me era devido”.

           Outro que posso citar é Hugo Napoleão, político honesto e dinâmico, que foi Governador, Deputado, Senador e Ministro. Ele disse, certa vez, da tribuna da Assembléia Legislativa: “As pessoas dizem, sem conhecimento de causa, que os políticos entram pobres na política e saem ricos, o contrário do que aconteceu comigo - pois gasto nela tudo que tenho e ganho e não pretendo nem vejo a política como um meio de enriquecimento, mas uma maneira de servir bem ao país e à comunidade”.

            Registro que homens como Celso Barros e Hugo Napoleão, são logo expulsos da política pelas manhosas safadezas e iniquidades da maioria dos partidos e de seus dirigentes, que vivem pulando de galho em galho até alcançar as graças do chefão ou da chefona do momento.

           Bens públicos e privados são muito distintos. Como uma espécie de diálogo, já que não tenho competência para a explicitação didática, continuo esclarecendo que nos países subdesenvolvidos ou em desenvolvimento, o Estado, neste século XXI, entrou de cheio a investir em determinados setores onde a iniciativa privada havia fracassado. Se esperavam que a empresa privada fizesse milagres, não sei. A empresa pública também não faz, não pode, não deve fazer milagres. Assim como a aliança de uma com a outra dá em corrupção, propina, ladroagem grande, como está acontecendo na nossa PETROBRÁS. Se o Estado fizer ou disser que está fazendo milagres, certamente está  iludindo a população, os cidadãos pagadores de impostos e reais feitores da história, embora não figurem na galeria dos eleitos. 

            O que faz o progresso é a honestidade, os bons costumes, a observância das leis quer pelos que estão do lado dos bens privados, quer pelos que foram eleitos pelo cidadão – conscientemente ou não. Mas se o eleitor não vota consciente, é falta de informação, de estudo, de educação, de leitura, muita coisa que começa na família (entidade privada) e termina (ou prossegue) na sociedade. E a culpa maior é do Estado (bem público). 

        Certo é não privatizar demais, nem o que não deve: segurança, saúde, previdência. Nem interferir na imprensa especialmente. Imprensa censurada é sinônimo de ditadura. A Argentina e a Venezuela sofrem disto. Há  cargos estratégicos do governo, numa democracia, que simplesmente não podem ser extintos nem privatizados.  Urgente é sanar os defeitos administrativos, punir os maus administradores, os maus políticos, isto sim. Privatizar não é urgente. Urgente é administrar bem, seja no Congresso, seja na Presidência da República, seja na Justiça, que protege a Constituição e as demais leis.  

      Normalmente, os desmandos administrativos decorrem da política. E, como vemos, agora os administradores de empresas privadas estão tendo o poder de corromper os políticos chamados representantes do povo e vice-versa: os maus políticos, e principalmente eles, corrompem a empresa privada. Tudo errado em nosso país como social-democracia que é ou diz deseja ser!

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Francisco Miguel de Moura – Escritor, poeta,  membro da Academia Piauiense de Letras, publica aos sábados, no Jornal "O Dia. E-mail: franciscomigueldemoura@gmail.com           

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