segunda-feira, 4 de agosto de 2014

SOLICITAÇÃO DE TOMBAMENTO - CARTA

                                            
Teresina, 1º de agosto de 2014.


A Sua Senhoria o Senhor
Acadêmico Nelson Nery Costa
Presidente da Academia Piauiense de Letras
Teresina – Piauí

Senhor Presidente,

Dois recentes e expressivos acontecimentos que guardo na mente, representados pela minha viagem à Terra Santa e o tombamento dos dobres dos seculares sinos da Igreja São Benedito, me levam a submeter à Academia Piauiense de Letras, sodalício do qual, com muita honra, faço parte, a presente proposição.

No primeiro caso acima apontado, assimilei incontáveis ensinamentos religiosos, onde pude, em especial, avaliar as lições e leituras feitas sobre a Cruz e o seu simbolismo. Aprendi que a Cruz assume o papel de ponte, através da qual a alma pode chegar a Deus. Dessa maneira, ela liga o mundo celestial ao terreno da experiência da crucificação. Li, também, que o simbolismo da Cruz foi aprovado pelo cristianismo, enriquecendo e condensando, nessa imagem, a história da salvação e paixão do Salvador, significando, também, a possibilidade da ressurreição. Entre os cristãos é sinal venerável, porque nela padeceu Jesus Cristo.

No segundo acontecimento, detive-me na leitura do artigo escrito pelo advogado Romildo Macedo Mafra sobre os sinos da Igreja São Benedito, tendo a Academia Piauiense de Letras encampado a ideia do tombamento. Operou-se uma proposição do acadêmico Zózimo Tavares, apreciada em reunião da qual participei e dei o meu favorável voto, tendo sido, no final, unânime a sua aprovação. O Prefeito de Teresina, Dr. Firmino da Silveira Soares Filho, recentemente, em ato solene, assinou Decreto tombando os dobres dos seculares sinos, amparado, em especial, na Lei nº 3.602, de 27 de dezembro de 2006, que “Dispõe sobre a preservação e o tombamento do Patrimônio Cultural do Município de Teresina e dá outras providências”. Em face de tais fatos, decido propor à APL que, de igual forma, venha, agora, oferecer uma nova proposta ao Prefeito da Capital, desta feita sugerindo o tombamento do “Cruzeiro”, que se acha fincado, desde 1861, à altura da ribanceira do rio Poti, na Avenida Frei Serafim.

Recorrendo às informações contidas no livro do Prof. Matias Matos, sob o título “Avenida Frei Serafim”, temos como destaque: “Cruzeiro. No trabalho de transportar o material do rio Poti para a construção da Igreja de São Benedito, havia um grande obstáculo a altura da ribanceira do rio, de quase noventa metros, conforme Iracildes Moura Fé (LIMA, 2002, p. 192). O esforço para retirar o material, acondicioná-lo e subir a ladeira era um desafio penoso. A maioria das pessoas não estava acostumada a tamanha carga de esforço e ainda havia mulheres, idosos, debilitados e até adolescentes. O trabalho coletivo, entretanto, tinha de ser realizado e, como forma de transferir força para o grupo, Frei Serafim, apesar de ser arquiteto por formação acadêmica, na sua formação religiosa, aprendeu a técnica de liderar e conduzir massas, e, no ponto mais alto da ribanceira, no início do aclive da trilha (avenida Frei Serafim), mandou fincar um rústico cruzeiro de madeira; ao redor do cruzeiro, os obreiros paravam para descansar, esperar os mais fracos, aguardar os retardatários, enquanto entoavam hinos e rezavam terços, quando todos estavam descansados, em uma só tirada, bem devagar, trilhavam a distância que ainda faltava percorrer, sempre no raiar do dia e no pôr do sol (MONTEIRO, 1987, p.110)”.

Registra, ainda, o citado historiador, que a Cruz original deteriorou-se com o passar dos anos e, em 1928, por iniciativa dos frades capuchinhos, uma nova foi ali colocada, sofrendo, também, o natural desgaste produzido pelo tempo. Finalmente, na década de setenta, o canteiro central onde sempre se encontrou a Cruz foi refeito e uma outra, desta vez de concreto, foi cravada sobre um pedestal.

O nosso Cruzeiro dá uma nota religiosa à avenida que continua sendo, na cidade, de uma beleza singular. No Cruzeiro, penitentes rezavam e acendiam velas, escreviam promessas a lápis e colocavam ex-votos de madeira, toscas reproduções de cabeças, pernas, braços, mãos, em lembrança das graças que obtiveram. Lembro-me das promessas feitas e cumpridas, anualmente, por minha mãe, ao levar os filhos até àquele símbolo religioso para agradecer a Deus as aprovações nos estudos.

Agora, pensando na preservação e proteção daquela Cruz, sou impelido a apresentar esta proposição de tombamento, considerando, inclusive, a própria importância histórica e cultural do monumento. Não há nenhuma dúvida sobre a localização e o papel dessa Cruz para a história de Teresina. Desejo, unicamente, por entender que a medida é do interesse público, agir em favor da cidade, para salvaguardar o passado para o presente e o futuro.

Atenciosamente
Nildomar da Silveira Soares
Membro da Academia Piauiense de Letras

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