quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

CARÁTER E ÉTICA, O QUE É ISTO?

                        
*Francisco Miguel de Moura  
            Escritor


Hoje tanto se fala quanto escreve sobre ética que a palavra parece ter-se tornado chavão, lugar comum.  Lemos aqui, ali e acolá: “Aquele Fulano é ético”, principalmente se o fulano é político ou administrador público.  Porém, esquecem de falar sobre sua moral, sua vergonha, seu caráter. Eis a palavra “chave”, transfigurada noutra palavra, a banalizada ética. Para mim, moral e ética são as as duas bandas da maçã: - a fruta sã do caráter.

Não gosto de andar repetindo os clássicos a todo instante, mas, nesta altura, sou obrigado a lembrar a célebre frase do grande escritor Oscar Wilde (1854-1900): “Chamamos de ÉTICA o conjunto de coisas que as pessoas fazem quando todos estão olhando. O conjunto de coisas que as pessoas fazem quando ninguém está olhando chamamos de CARÁTER.” (in “Jornal Ação”, ed. ANABB, nov/dez /2012).

Nenhuma frase é mais clara do que a do romancista de “O Retrato de Dorian Gray”, cujo autor e obra recomendo como leitura obrigatória. Mostra as diferenças de comportamento entre quem tem caráter e quem apenas tem ética.  Pessoas sem caráter falam mal da imprensa (sem sequer ler um jornal ou revista), falam mal de quem escreve livros e revistas, falam mal de acadêmicos e intelectuais, enfim, de quem gosta de pensar e agir corretamente. Mas falam muito bem de si mesmos. Ah! isto sim, falam: “Eu sou um homem de bem!”. Quem diz ou pensa dessa forma, às vezes até chega a ser um homem de “bens”, mas, na maioria das vezes de origens escusas.

Para ser uma criatura de bem não basta cumprir a lei escrita, ter advogados, ganhar causas e mais causas, arrebanhar riquezas. Nem, na vida, ter profissão de advogado, médico, engenheiro, grande comerciante ou industrial, alguém de posse.  Para ser um homem de bem, é preciso, acima de tudo, ser honesto – a MORALIDADE que hoje rareia, a começar pela palavra - moral - deformada como está a coitadinha. Quem acredita em palavra? O negócio é o preto no branco, o mais é tatatá, tatatá, tatatá!...  Correto? Não, a vida em sociedade não deve ser assim.  Por isto repetimos, para ser um homem de bem é preciso ter CARÁTER, assine papel ou não, saiba cumprir a palavra dada, saiba impor respeito e se impor.  “Creio que está viajando na maionese” - dirão, rindo de mim, os imbecis e que “isto é coisa do passado, coisa de romance, história pra boi dormir”. 

Não é não. Há civilizações por aí que guardam as tradições. Mas falemos no nosso Brasil. A frase é do Vice-Presidente de Comunicação da ANABB (Associação Nacional dos Funcionários do Banco do Brasil), Sr. Douglas Scortegagna: - “O Brasil tem amadurecido em alguns aspectos e apodrecido em outros. Amadurecido, quando consegue mostrar capacidade singular de superar dificuldades e obstáculos. Apodrecido, quando o cidadão cala, e com isto consente, diante das mazelas que ele condena nos políticos, mas age da mesma forma ou pior”.

O que o articulista diz com isto, assim tão sinteticamente? Que só há tantos corruptos ativos porque há também - e muitos – os corruptos passivos, tanto auferindo altos bônus, como empregos desonestamente, como materiais desviados na surdina da noite... Qualquer que seja o conluio: voto comprado e vendido, louvor, boca calada, medo de desagradar etc. tudo isto soma-se à corrupção geral, aos maus costumes, à falta de caráter da população, e vai virando moda. Como se fosse bonito ser desonesto, ser ladrão dos cofres públicos ou particulares, ser bandido à custa da lei branda organizada e proclamada por causa da Ditadura Militar, para garantir uma menor pena, uma maior liberdade àqueles que lutaram pela volta à Democracia – que infelizmente estamos vendo desmoronar-se a cada ação desonesta, a cada “mau-caratismo” praticado, todos os dias, por cidadãos de altos bens e por cidadão pobres – coitados! – na ilusão de que é assim que se constrói a Igualdade, a Liberdade, a Fraternidade.

Sem firmeza moral não se constrói uma grande ética, sem essas duas virtudes não se constrói coisa alguma, democracia alguma, riqueza alguma, justiça alguma. Se não houver uma mudança rápida e continuada na educação dos homens e mulheres, das famílias, dos filhos, dos alunos e professores, das escolas e métodos de vida e orientação nos sindicatos e nas associações de classe, assim como nos próprios partidos políticos, qualquer progresso econômico é fofo, madeira que o cupim roerá em pouquíssimo tempo. E BABAU, BRASIL!
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*Francisco Miguel de Moura  - Escritor, membro da Academia Piauiense de Letras, da União Brasileira de Escritores - UE-SP e da IWA - Associação Internacional de Escritores e Artistas, com sede em Toledo, OH, Estados Unidos.



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