quinta-feira, 4 de setembro de 2008

OS DESMANTELOS DO MUNDO


Francisco Miguel de Moura*


Na natureza conhecida e na sociedade nada é de graça, não acontece por mão do destino. É necessário investigar a causa, as causas, para compreender um pouco do mundo. Parece que de uns tempos para cá a inteligência do homem não aumentou, a sabedoria fugiu, salvo para detalhes técnicos tais como os do computador, linguagem mais primitiva do mundo: o mais e o menos, o positivo e o negativo. Ou para inventar nomes difíceis para as técnicas de venda e gerência de empresas. A linguagem técnica é dura por excelência. Deixou-se de sentir, sonhar. A arte morreu. Não é possível que tantos crimes aconteçam, ao mesmo tempo. É a busca desesperada pelo poder, dinheiro e tudo que ele oferece. Cada vez mais a maldade é exposta na tevê, na internete, no rádio, em casa, nas ruas, na boca das pessoas, no coração e na cabeça.
Outrora se tinha a famosa “educação doméstica”. Agora, tudo se aprende na rua, da maneira mais deteriorada possível, rumo à droga, ao sexo, às baixas paixões. Não deixemos dinheiro nem coisas de valor em sítio longe da vista. Documentos, fotos, revistas, livros. Mesmo objetos presumivelmente inservíveis são afanados num abrir e fechar de olhos. Onde a moral? Onde os bons costumes? Onde a verdade, a sinceridade, a lealdade? Onde a inocência das crianças? Onde a ternura das mulheres? Onde o cavalheirismo dos homens?
Os meninos da classe média, além de se drogarem, se armam, entram na escola, atiram, assassinam. Os pobres e paupérrimos agridem os que passam na rua: pedem, pedem, e se não recebem, depredam carros, ônibus, o que encontram, e até matam. Sabemos que o homem, bem no inicio, era bastante violento, mas veio a civilização, a cultura e o aperfeiçoamento moral. Mas cadê a grandeza social dos séculos passados? Para onde vão esses bilhões de seres humanos cada um pensado por si e agindo da mesma forma? Pais modernos – diferente dos clássicos – que não se iram contra todo tipo de violência, contra todo tipo de tirania, contra todo tipo de guerra; pais sem domínio de si, descaracterizados como tal, deixando os filhos ao deus-dará da tevê, cinema, internete, rádio, ruas et caterva, onde vocês perderam a responsabilidade? Esqueceram que ter filhos tem conseqüências mediatas, imediatas e remotas.
A família é a fonte dos bons e dos maus, dependendo de como ela foi, de como ela é, de como são os pais. De filhos violentos, criminosos, viciados, e de filhas desregradas e perdidas, que praticam aborto (e outros expedientes) para gozar o bem-bom do sexo a toda hora e com muitos, que tipo de netos e bisnetos virá?
A sociedade é cumulativa em suas práticas, daí a violência que temos: falta de educação doméstica, educação na escola e falta de tradição (o passado dos pais).

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*Francisco Miguel de Moura, poeta brasileiro, membro da Academia Piauiense de Letras, mora em Teresina, Piauí.

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