terça-feira, 29 de janeiro de 2008

QUEM ME VÊ?

Francisco Miguel de Moura*

Quem me vê? Uma caixa iluminada,
escuro em mim e escuridão na sala?

A tevê que nos vê está dentro de nós,
esta que vem de fora quer é nos comer,
devorada por nós aos poucos, sem saber
das cores e fingidas lágrimas fabricadas...
Tão sentimentais! Mas sentimento, nada.

A única saída, sem controle, para dentro
de ti, é ver a camada de neve lá atrás
na redação dos programas e jornais.

Dorme, se queres ser menos infeliz,
ver não é ter, ter não é ser... Que diz?
Crê em quem não fala nem é juiz.
Amanhã, és tu mesma, o’ criatura,
sem conchilos e enfados, e tortura.

Não adules canais. Tudo repete...
Propaganda de perfume e fumaça
de cigarro, onde implícita o sexo,
na espera do explícito Carnaval!
***
Fecho minha tevê, abro minha janela,
cantando e arrepiado de saber
da coragem ante tanto desagrado:
Ninguém me ama se ninguém me vê.

Então, adeus sofá e insônia de tevê.

_______________

*Poeta brasileiro, mora em Teresina, Piauí

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