sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

NATAL, NATAL DAS CRIANÇAS!... E DA FAMÍLIA

Francisco Miguel de Moura 
– Escritor, membro da Academia Piauiense de Letras

     Pelo que sei ninguém escreveu como seria a Festa do Natal no céu.  Não tenho conhecimento disto na literatura. Por isto mesmo e porque sou escritor e poeta, logo curioso, pergunto:

     - Se realmente houvesse uma Festa de Natal no céu, que fariam as crianças, as almas, os anjos, os espíritos que lá habitam?  Teria uma Árvore de Natal igual à que fazemos aqui? Teria um Papai Noel barbudo como nos apresentam? Um P. N. que distribuísse tantos presentes como aqui? E o P. N. receberia tantas cartas das crianças? A única coisa que eu sei sobre o céu, além do que a religião nos diz, é nada mais que um poema de Manuel Bandeira (coincidentemente Emanuel, que quer dizer Deus conosco), denominado “Irene no Céu”: “Irene preta / Irene boa / Irene sempre de bom humor. // Imagino Irene entrando no céu: / - Licença, meu branco! / E São Pedro bonachão: /- Entra, Irene. Você não precisa pedir licença”.

    Seria um céu puro do jeito que os homens bons querem, ou seja, sem preconceito de qualquer natureza, um céu de gente que fez somente o bem na terra, um céu de pessoas de bom humor, de guardiães da verdade e do bom caráter, que recebe os oprimidos, os que sofreram discriminação, os que não têm o espírito da riqueza deste mundo. Esses não precisarão pedir licença, é só entrar e ficar no bem-bom. Em nada será um lugar parecido com o que existe aqui na terra. Portanto, o céu não é aqui, aqui é apenas uma provação para que cheguemos ao Reino de Deus. Seria o caso de lembrarmos o "Sermão da Montanha": “Bem aventurados os que os que sofrem..., os que são misericordiosos..., os que têm fome e sede de justiça”... Porque deles é o Reino dos Céus”.

     Meu intrigante interlocutor, o amigo Osmundo Vergado, que é um tremendo agnóstico, pergunta:

    - Por acaso, Chico Miguel, você saberia precisar o que é ou como seria o Natal no Inferno, lugar tão falado pelos católicos, agora transmutado em “mansão dos mortos”, na oração chamada “Credo”?
Não respondo nada na ocasião. Mas penso que não seria como numa casa de classe média, cheia de luzes, árvores de natal de plástico, fogos de artifício no ar, pessoas rodeando as mesas de iguarias – a principal sendo o peru – sem prestarem a menor atenção às crianças, pois já lhes deram os presentes: bonecas, bolas, carrinhos, tudo de plástico, dizendo-lhes que tinha sido o Papai Noel quem lhes mandou, especialmente às menores. Note-se que ricos, nessa ocasião, vão passear em Nova Iorque, Paris, ou no Caribe, nas Ilhas do Pacífico, em tantos outros lugares, deitando-se em hotéis luxuosos (a maioria dos homens com mulheres traídas, traidoras ou traindo pela primeira vez os seus maridos), só para ver de longe os pobres dançarem a festa que pensam ser deles, porque assim a mídia proclama. Seria muito pior.

     Mas uma pergunta pertinente seria esta, visto vivermos no Planeta Terra:

    - Quem se lembra de que no Natal se comemora o nascimento de Jesus Cristo?  O sábio e santo filho de Deus, que dividiu na terra o calendário em dois: antes e depois dele, há mais de dois mil anos. Seu nascimento se deu entre os humildes, numa manjedoura, na pequena e pobre cidade de Belém, quando apareceu uma estrela nova no céu, chamando logo a atenção dos sábios e nobres, entre os quais os três Reis Magos, estrela que marcou data tão importante na História da Humanidade.   Natal deveria ser simplesmente a Festa das Crianças – a Festa do Deus Menino - aquele que nasce a cada ano no mundo e no coração dos homens para renovarem as esperanças no Reino dos Céus, o Reino da Felicidade. Papai Noel pra nós não existe, é uma lenda que vem das estepes com seu trenó e suas roupas vermelhas de frio. O Natal moderno tornou-se, assim, a festa da morte dos perus e de outros animais, a festa dos brinquedos e presentes de plásticos que depois de usados irão encher as ruas, os rios, os mares e todas as fontes d’água, acabar com a Terra, transformando-a num caldeirão de fumo e calor. Festa dos “shoppings”, dos banqueiros, industriais e comerciantes, especialmente dos bares e restaurantes, onde sobram tampinhas e garrafas que os artistas tentam aproveitar em obras de artes, mas a maior parte termina como lixo imundo. E cadê as crianças? Nas famílias abastadas, os “miúdos” terminam ficando com empregadas, avós, tias, ou mesmo vizinhas como filhos abandonados. Cadê a festa da família que deveria ser lembrada, em cujo seio nasceu Jesus, sábio, profeta, santo e nosso irmão maior?

    Agora, depois destas longas considerações, quero resumir, a pedido de Osmundo Vergado, as questões acima postas:

      No céu, todos nós seremos iguais perante Deus. Tudo lá é verdade.

     Neste mundo há mentiras e verdades. Somos iguais perante a lei, mas aí começam as desigualdades: são tantos os parágrafos, alíneas e não sei mais o quê de proteção aos donos do poder, aos feitores da lei, aos julgadores etc.

    - E no inferno, insiste meu interlocutor maldoso?

    No inferno todos são iguais perante a falta de Deus. De lá, um personagem mítico é o dono. Segundo a palavra de D. Francisco, Papa da Igreja Católica, “Jesus define o Diabo como o rei do Inferno, o pai da mentira... E talvez seu maior sucesso nestes tempos é ter-nos feito acreditar que ele não existe”. Por isto o Natal vem sendo desacreditado e deturpado. E agora, em vez de Festa das Crianças e da Família, passou a ser uma espécie de “Carnaval do Papai Noel”.     

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http://franciscomigueldemoura.blogspot.com

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