sábado, 16 de março de 2013

BRASILEIRO TEM FOBIA A NOSSA HISTÓRIA

Francisco Miguel de Moura, escritor, membro da Academia Piauiense de Letras

    É necessário fazer, de vez em quando, alguma reflexão sobre o assunto. Uma delas: - Qual a razão de escondermos a nossa historia, seja a política, seja a dos costumes, seja a familiar? Qual o motivo psicológico profundo de tantos crimes e de tantas leis, agora, como se as leis escritas apagassem as ações, como se tivessem poder de transferir o caráter pelo sangue. Daí, costumamos dizer que da mistura de portugueses, indígenas e africanos não poderia vir coisa melhor. Esse tipo de pensamento é reacionário, indiscutivelmente; é ter o mundo como imóvel, morto, e a sociedade, filha desse mundo, qual fosse uma múmia. 

          Aqui, um pequeno lembrete: - Hoje, um dos países mais desenvolvidos é a Austrália, se bem que muito mais nova que o Brasil, tendo sido sua população, em grande parte, originada em assassinos e ladrões que os ingleses mandavam para lá, como se fosse uma colônia penal. Isto e outras coisas mostram que a virtude, a moral, a ética não estão no sangue, no DNA.  Todas são resultado da transformação do homem individual e social, num mundo que a cada momento perde sua feição e se transforma noutro. Talvez esses argumentos sejam os motivos principais dessa crônica. Não nos queixemos por que fomos colonizados pela mistura de brancos portugueses, de selvícolas e verdadeiros donos da terra e de africanos escravos. Fizeram os portugueses o mesmo que outras colônias faziam, inclusive os Estados Unidos, naquele tempo apenas Colônia Inglesa na América. Então, como esquecer o nosso passado e não apreender, com ele, os nossos erros e a forma de repará-los? Com o esquecimento, não vamos poder comparar o que fomos com o que somos. Vamos ficar soltos no mundo moderno, sem balizas, sem referências.

    Quantos episódios de nossa história são esquecidos e mal pesquisados e interpretados!  Por que fomos o primeiro reinado e o primeiro império das Américas, vamos ficar como vergonha disto?  Ou nós somos, hipocritamente, como os primeiros portugueses, os da esquadra de Cabral, envergonhados das índias e índios com suas vergonhas de fora?  E hoje, o que somos? Será que nos rendemos, em termo de costume e vestuário, ao passado, ou somos os inventores do nu? Olhemos nossos Carnavais, novelas e festas diversas.  

D. João VI era um rei bobão que vivia com a D. Maria, a louca. Seria? Por que tanta anedota em torno de nós mesmos? Passemos, portanto, a divulgar uma das mais saudáveis da nossa tradição: – Era no tempo da Inquisição, foi a rainha D. Maria, a louca, que resolveu o caso de um navio perdido, no oceano, cheio de judeus e cristãos novos, o qual foi mandado da Europa para o Brasil, ninguém sabe por quem, pois sempre fomos considerados terra de ninguém (isto é, que aceitava tudo). A sentença da Inquisição seria queimá-los em fogueira, mas a rainha teve pena os recebeu, livrando-os desse infortúnio. Eles aportaram nas praias do Ceará e lá viveram por séculos, cruzaram com os da terra e desenvolveram-na. O Ceará, hoje, é um dos Estados mais progressistas do Nordeste - região quase toda ainda em atraso em relação ao Sul. O cearense é povo inteligente e vivo, trabalhador e consciente, além de amante de sua terra, haja vista a forte literatura, arte e cultura que lá foram implantadas e prosperaram. Diz-se, talvez inventado por um deles (cearenses), que “as meninas cearenses são dotadas de belezas”.  É o bairrismo comum, claro.  

Já os historiadores novos, que estão na vanguarda dos estudos históricos e antropológicos, acabam de derrubar a mentira de que D. Pedro I, nosso primeiro Imperador, aquele que nos ofereceu, apoiado pelos brasileiros ilustres da época, especialmente José Bonifácio de Andrade e Silva, a mais progressista Constituição, do país, naquela época. Essa é a verdade. A lenda de ser namorador e mulherengo, de que o Príncipe (depois Imperador) espancava suas mulheres, está perto de ser desmascarada com as pesquisas dos corpos do Imperador e da Imperatriz D.Leopoldina, exumados no Museu do Ipiranga. Ela – diziam - teria sido espancada por ele muitas vezes e, em consequência disto, vindo a falecer. Mas, pelas primeiras análises, não houve nada disto.

           Por fim, recebi um recorte de jornal da Paraíba, onde está registrada a manchete: “Família de Antônio Silvino prefere esquecer a história do fora da lei. Em seguida, lamenta o jornalista Hilton Gouvêa, do jornal “A União”, de João Pessoa: - “Um filho do ex-cangaceiro Antônio Silvino, que na realidade se chamava Manoel Batista de Morais (o filho), morreu com quase cem anos, numa discreta casa de Jaguaribe, onde morava com a família. E com ele se foi um sonho, o de escrever um livro sobre o seu famoso pai, com os detalhes vivos de quem foi testemunha pessoal de alguns episódios protagonizados pelo ‘RIFLE DE OURO’, o homem que se tornou, antes de Lampião, o bandoleiro mais famoso do Brasil”. Conta mais, o jornalista, que, decepcionado, em busca da história de Antônio Silvino, teve notícia apenas de um neto do famoso cangaceiro, cujo nome não conseguiu e só apenas o sobrenome “Morais”, depositário de toda uma lembrança e naturalmente alguns objetos testemunhos da vida do avô. “Morais”, tendo falecido, deixara com a mãe um recado: “Não quero mais publicidade com o nome de meu pai.  O cara famoso era meu avô. Meu pai era apenas filho de Antônio Silvino”.


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