
Francisco Miguel de Moura*
Versão e tradução, por quê? Vamos começar referindo os termos “língua de saída” e “língua de entrada”. Eles indicam a transferência (tradução ou versão) de um texto para língua diversa daquela em que foi originalmente escrita. Há os que dizem que versão e tradução são uma e a mesma coisa: – Chamam “versão” de “tradução” e vice-versa, mas nunca experimentaram fazer as duas coisas – pegar um texto em espanhol e traduzi-lo em português, nossa língua, ou, ao contrário, pegar um texto originariamente escrito em português e vertê-lo ao espanhol, francês ou inglês.
Há anos traduzo do espanhol, do francês e do inglês, principalmente os poemas que gosto. Leio uma, duas, três vezes e começo a escrever a tradução. Dicionário e gramática daquela língua ao lado. Observo a estrutura do poema quanto ao número de sílabas dos versos, o número de versos das estrofes, as rimas, depois, é claro, de estar a par do conteúdo, embora nunca nos seus mínimos detalhes. Esta é que é a dificuldade da poesia: nos detalhes, no particular está a arte, não só nas generalidades. Para a tradução, há muitos empecilhos, tropeços, verdadeiras
armadilhas
Leio, numa obra enviada pela amiga Vera Lúcia de Oliveira, brasileira que mora na Itália, poetisa que sabe falar bem o italiano, a seguinte afirmação: “As versões em italiano são da própria autora”. Trata-se de Pedaços/Pezzi, composto de poemas bilíngües, português/italiano, cuja versão teve a supervisão da Profa. Luciana Stegagno Picchio e de outros professores que leram com paciência os originais.
Assim, não me restam dúvidas de que “tradução (e mais ainda a versão) é traição”, como dizem os italianos. Mas, se essa “traição” resulta num belo objeto, em tudo parecido com o original, vale a pena. Quem costuma fazer versões são os professores de língua, não os poetas. Por isto são mais transliteração que transcriação. Nem sempre, ou quase nunca, saem uma peça de arte, especialmente se poemas de forma fixa como o soneto e a espinela, duas espécies exemplificadas na obra Testemunho.
Creio que estou certo quando digo que a tradução propriamente dita – sendo uma transcriação – dispensa que o tradutor saiba falar e escrever a língua de saída; exige, entretanto, que saiba lê-la, conheça sua gramática (estrutura) e principalmente muita sapiência da língua de chegada. Com relação à versão, o versor (ou vertedor) deve saber bem as duas línguas, a de saída e a de entrada – ler, falar e escrever.
A edição deste livro, além de outros propósitos, pretende mostrar essa diferença com a leitura de versões e traduções ao lado do respectivo original, salvo nas partes terceira e quarta, do que me penitencio por ter perdido os originais que têm por base.
Esperando que meu livro Testemunho produza ações como leituras, crítica

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* Francisco Miguel de Moura, poeta brasileiro, com o livro "Testemunho - versões e traduções" ainda em preparo, fez a apresentação acima como explicações necessárias sobre o fenômeno "tradução" e "versão", ainda tão mal explicado pelos críticos de literatura e de tradução, se é que existe essa categoria de críticos.
E-mail: franciscomigueldemoura@superig.com.br
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