“ENTRE O GIZ E A VIOLA” – DOUTORA CRISTIANE
PINHEIRO*
Francisco Miguel de Moura**
Há alguns meses recebi um volumoso livro, ainda apenas digitado, mas já no ponto de ser editado. Trata-se de uma obra do maior interesse para o Piauí. É a tese da Profa. Cristiane Feitosa Pinheiro, Professora Titular no Campus da Universidade Federal de Picos. ´É a prova-título de sua tese de doutorado, prestada oralmente aqui em Teresina, diante do corpo de professores da Reitoria da Universidade Federal do Piauí, doutores daqui e de outros Estados. Nome da tese que doutorou a Profa. Cristiano Feitosa Pinheiro:
“ENTRE O GIZ E A VIOLA: PRÁTICAS EDUCATIVAS DO MESTRE-ESCOLA MIGUEL GUARANI NO VALE DO RIO GUARIBAS(1938-1971)”.
Esta,
sim, é uma obra de peso e medida. A Universidade já deveria estar se
preparando, se é que não começou, a publicá-la para, inclusive, melhorar suas
publicações de teses, às vezes sem muito conteúdo, outras enviesadas para o
lado de teorias e dogmatismos estranhos e desnecessários ao nosso meio.
Mas
o que acontece com a tese de doutorado da Profa. Cristiane Pinheiro é bem
diferente: Trata do problema educacional no Piauí exatamente com foi no
interior do Estado e como, certamente, ainda continua problemática, quando
miseravelmente pouco atacado pelas autoridades e quando assim, de forma
distorcida, sem observar o passado.
O
passado nos ensina.
Um
simples mestre-escola do interior de Picos, mais precisamente do Vale do
Guaribas e de seu afluente, o Riachão, trouxe à baila seu grande trabalho em
favor das populações daquele interior esquecido, depois desassistido. Miguel Borges de Moura (Guarani) na verdade
era bastante conhecido em todo aquele interiorizarão, pois era como que um faz
de tudo, desde que para servir os seus conterrâneos e os seus filhos,
livrando-os do analfabetismo e indo muito além, pois lecionava o que seria
equivalente ao Exame de Admissão ao Ginásio (que ainda não existia no grande
burgo – a cidade de Picos). Matéria que ensinava: Português, Aritmética,
Geografia, História Geral e do Brasil, além de rudimentos de Ciências.
Quando,
no final do século XIX, iniciei a pesquisa sobre Mestre Miguel Guarani, meu
pai, ele já não era vivo (faleceu em 07-08-1971). Mas trabalhou incansavelmente
até o falecimento, ensinando às crianças, adolescentes e adultos, aquelas
matérias e mais: as regras do bem viver, como se chamava a moral e a conduta
das pessoas na sociedade, pois ele lecionava também religião. Minha pesquisa durou desde o tempo do seu
falecimento até o finalzinho daquele século. Somente em 2005 foi possível
publicar o livro de minhas pesquisas e memórias sobre ele, com o título nada
pomposo – apenas explicativo: “Miguel Guarani – Mestre e Violeiro”.
Não
falei ainda da aquisição desse saber de Mestre Miguel sobre a poesia popular e
as cantorias tão comuns no Nordeste. No começo fazia cantorias somente
acompanhado, ou melhor, combatendo outro cantador, em versos excelentes
perfeitamente improvisados. Foi nessa época que impressionado com o que meu pai
fazia, da forma como fazia e grandeza dos seus gestos como Mestre. Ouvindo sua
primeira cantoria (depois ouvi muitas), tornei-me realmente seu fã mais do que
já era e comecei a entender quão grande era sua inteligência e generosidade,
pois não trabalhava por dinheiro, o que ganhava era suficiente (para ser
otimista), suficiente para sustentar a família em suas necessidades essensiais. E o que ganhava um Mestre Escola? Melhor nem
falar e sentir como o professor nunca foi aquinhoado como devia pelo seu duro
trabalho. Professor é um abnegado, que se sacrifica sem saber o porquê. Ou
melhor, sabe? É o todo bem da comunidade sem esperar recompensa.
Poderia
falar muito mais do que está no livro que escrevi e mencionei acima, mas acho
desnecessário, visto que a Profa. Cristiane Pinheiro fez uma pesquisa das mais
profundas sobre o assunto, que colocou na tese, entrevistando pessoas que hoje
estudam, trabalham ou são professores da Universidade.
Colocando
aqui um trecho de sua dissertação, acho que não cometo nenhum pecado, mesmo sem
a permissão dela, a autora, grande autora, grande criadora, grande mestra:
“Mestre
Miguel de Moura adquiriu na experiência da sala de aula – casas, fazendas,
povoados- as estratégias necessárias para exercer o ofício de mestre,
fortalecer as raízes da profissão docente em Picos e adquirir respeito na
sociedade em que estava inserido.
Diante
de todo o cenário apresentado, resta perguntar: Como se deu o processo de
formação e atuação do Meste-escola Miguel Borges de Moura, nas comunidades
rurais picoenses através das veias líquidas do Guaribas?”
A
resposta que faz, como estratégia, está toda, e com minudências, no livro tese
da Profa. Cristiane Feitosa Pinheiro, de 281 páginas. Quando iremos lê-lo em
todo o seu teor, em livro publicado pela Universidade Federal do Piauí? Ela, a
Universidade, tem o dever de tornar esta tese pública, não apenas pela
internet, mas também como livro de papel, para servir de modelo à demais que
então se fazem. Sim servir de modelo, sem nenhum desdouro.
Quanto
a mim, cabe agradecer penhoradamente o presente que ela me fez e à Educação piauiense/picoense,
louvando-se, em grande parte, nos livros “Miguel Guarani, Mestre e Violeiro” e
“O Menino quase Perdido”, ambos de minha autoria. Mais no primeiro que no
segundo, que é apenas um complemento do que eu havia começado a pesquisar e
contar.
É
claro que a Profa. Cristiane Pinheiro presta um inestimável serviço à História
da Educação do Piauí, quiçá do Brasil, pois ambas se confundem no que é denominado História. Só o futuro reconhecerá.
Não
importa. Importante é fazer o que se tem de fazer e fazê-lo bem-feito, para
o conhecimento das futuras gerações de estudantes e
professores. É isto que acabamos de pincelar sobre o trabalho da Professora
Cristiane Feitosa Pinheiro, da Universidade Federal do Piauí, servindo no
Campus de Picos.
____________________
*Cristiano Pinheiro Feitosa é Doutora pela Universidade Federal do Piauí,
mora, em Picos (PI), em cujo Campus leciona matérias da sua especialidade; sua
tese “Entre o giz e a viola: Práticas
educativas do Mestre-Escola Miguel Guarani, no Vale do Guaribas (1938-1971)”
foi aprovada com distinção, em 2017;
** Francisco Miguel de Moura é membro da Academia Piauiense de Letras –
Teresina (PI)
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