A
TITO FILHO, O GRÃO MESTRE DA APL
Francisco
Miguel de Moura, membro da APL, cadeira nº 8
Começo pelo costume acadêmico, nomeando que o
ilustre Prof. José de Arimathéa Tito Filho (ou simplesmente A. Tito Filho), tal
como assinava seus artigos de jornal e suas obras literárias), foi o segundo
ocupante da cadeira 29, da APL, tendo como patrono Gregório Taumaturgo de
Azevedo e primeiro ocupante, José de Arimathéa Tito, seu pai. Nasceu em Barras (PI), em 27 /10 /1924,
estudou no Rio de Janeiro (RJ) e durante toda sua vida foi professor,
especialmente no Liceu Piauiense, e jornalista, escrevendo constantemente e
publicando em vários jornais do Piauí. Vivendo em Teresina, desde então tornou-se
uma pessoa das mais ligadas às letras e à cultura. Tomou posse na Academia
Piauiense de Letras, em solenidade no Clube dos Diários, sendo presidente deste
sodalício, Simplício de Sousa Mendes, em janeiro de 1964. Com a morte de
Simplício de Sousa Mendes, em 1971, então exercendo o cargo de Secretário Geral,
da APL, A. Tito Filho foi eleito presidente da “Casa de Lucídio Freitas”, em cujo cargo permaneceu até sua morte
em 23 de junho de 1992. E, como sabemos,
quem assumiu a Presidência da APL, depois da morte de Tito Filho, foi o
Professor e escritor Manoel Paulo Nunes
Durante toda sua vida de acadêmico, A. Tito
Filho sempre se reelegia, com tranquilidade, dada a sua competência e prontidão
para ocupar-se da cultura e da literatura do nosso Estado. E assim, na minha
visão, dirigindo a Academia, ele teve dois períodos áureos, de glória, como
administrador. O primeiro foi quando Alberto Silva era Governador do Piauí, o
qual, como sabemos, muito se voltou para a valorização do nosso Estado, em
todos sentidos. A. Tito Filho instou com o Governador para a criação do Plano
Editorial “Petrônio Portela”, começando a editar inúmeras obras de autores
piauienses antigos, já quase esquecidos. Para tanto, A. Tito Filho chamou o
acadêmico Armando Madeira Basto ao seu auxílio e, em seguida, Jesualdo
Cavalcante, que era o Secretário de Cultura.
Minhas relações com A. Tito Filho foram
sempre literárias. Não me lembro de como chegou, às suas mãos, o meu livro “Areias”, em 1966, quando eu ainda era
um poeta plumitivo. Sei que o elogiou pelo jornal e eu guadei e ainda guardo o
recorte.
Mas passei a conhecer um pouco da Academia
Piauiense de Letras ainda quando a entidade se reunia numa casa alugada. O
Prof. Arimathéa Tito Filho já era seu Presidente. Estive presente em uma
reunião acadêmica, quando, em 1979,
levava, debaixo do braço, meu 3º livro de poemas, titulado de “Universo das Águas”, o qual, posteriormente, foi lido e
elogiado por ele, chamando-me até de “o
Drummond do Piauí”, elogio que não levei a sério, porque sempre quis ser um
poeta original, diferente de todos, embora conhecedor de muitos.
Claro que, para obter o auxílio governamental,
A. Tito Filho premiava os governadores que mais olhavam para a cultura: O
primeiro foi o já falado Alberto Silva, o segundo foi o Hugo Napoleão. Assim,
os dois foram chamados e ocuparam cadeiras na APL. Na esteira do Plano
Editorial “Petrônio Portela”, o Governador Hugo Napoleão doou à Academia
Piauiense de Letras, o prédio onde nós estamos. E foi este outro momento
glorioso para o Presidente A. Tito Filho, como Presidente da “Casa de Lucídio Freitas”. Lembremos que
este cognome é uma indicação de que, a APL nasceu sob o signo da poesia.
Lucídio Freitas e Alcides Freitas eram essencialmente poetas e o pai desses
jovens brilhantes, Clodoaldo Freitas, era jornalista e político, mas também
poeta, embora que bissexto, prova de que a APL nasceu pelas mãos de poetas e intelectuais.
Não me
recordo se foi ele, A. Tito Filho, quem ampliou o quadro da APL de 30 para 40
cadeiras, ou se se isto aconteceu ainda época do seu antecessor, Simplício de
Sousa Mendes, o que não importa tanto. O fato é que A. Tito Filho, valendo-se
dessa ampliação de cadeiras, com intuito de tornar nossa APL semelhante às
Academias Francesa e a Brasileira de Letras, ele se beneficiou da ampliação.
Assim, entraram piauienses ilustres como Raimundo Nonato Monteiro de Santana e Manoel
Paulo Nunes, entre outros.
De forma gradual e inteligente, Arimathéa Tito
Filho foi dominando a Academia, chamando pessoas de competência, para o seio da
entidade, no campo das letras e da política, ou seja da intelectualidade, conservando
o apoio de todos, fossem esses novos sócios residentes no Piauí ou em outros
Estados. Desta forma, ele dominava as
suas reeleições.
Tentando
mostrar o seu “modus operandi”,
vem-me a lembrança de como A. Tito Filho conduzia a APL, indicando como foi minha
eleição para a “Casa de Lucídio Freitas.”
Pelos idos de 1960/80, acontecia uma enorme ebulição na cultura brasileira e,
por extensão, nos estados, ocasionada pela ditadura militar de l964. Nosso
Piauí não ficaria atrás. Eu, recém
chegado do interior da Bahia, juntamente com Francisco Hardi Filho e Herculano
Morais, fundamos o CLIP (Circulo Literário Piauiense). A agremiação fez parte
da referida ebulição, sem dúvida. Ao tempo, havia um grupo que se denominavam
de “os novos”, que se posicionavam contra
a Academia Piauiense de Letras. Mas nós, do CLIP, nunca fomos contra a Academia.
Nós éramos a favor da celeridade das ações em favor artes, da criação de uma
Secretaria de Cultura, da Fundação Cultural, de tudo que pudesse resultar em emissão
de concursos de literatura e de artes, publicações de livros etc. Nessa direção
é que foi criada também a União Brasileira de Escritores do Piauí (UBE-PI).
Lembro-me que em uma das nossas reuniões da UBE-PI, compareceu o Prof. A. Tito
Filho, prova de que ele estava atento a tudo que acontecia culturalmente. Não
sei porque Herculano Morais e Hardi Filho foram eleitos para APL, antes de mim.
Algum tempo depois foi eleito O. G. Rego de Carvalho, embora tenha ele tecido
algumas críticas à Academia, proclamando que “ela só acolhia desembargadores
e outros intelectuais, e nada de escritores e poetas”. Eu e ele fomos eleitos
para APL, um pouco mais tarde do que os dois citados. O. G. Rego de Carvalho, por seu valor
inconteste, não teve concorrente para a eleição. Já a minha entrada para APL foi um pouco mais
tardia e diferente. Embora meu nome já fosse indicado, pela imprensa e por vários
acadêmicos de projeção, como merecedor de um assento na “Casa de Lucídio Freitas”, eu concorri a primeira vez por simples
brincadeira. É que, com a morte do acadêmico Ofélio das Chaga Leitão, um picoense
como eu, ambos ligados ao Banco do Brasil por profissão, a família dele me
pediu que eu concorresse para preencher na sua vaga. Claro que não fui eleito,
nem eu, nem o Prof. Benjamin do Rego Monteiro, que também concorria. Venceu, em
segundo turno, a terceira candidata, Sra. Emília Castelo Brando (Lili). Uma segunda vez eu tentei entrar para a APL, tendo
por concorrente, o J. Romão da Silva. No
primeiro turno ninguém foi eleito, não tivemos os votos exigidos pelo estatuto.
Então, o Prof. A. Tito Filho, sabendo que eu não estava disposto a concorrer no
segundo turno, chamou-me à Academia, pedindo que eu optasse pela concorrência,
que eu tinha todo direito, etc. Mas eu
pedi que me desculpasse, pois não iria pedir voto aos mesmos acadêmicos que
votaram no Romão. Isto, para mim, não era justo.
Pouco tempo depois, faleceu o Prof. Francisco
da Cunha e Silva, titular da cadeira nº 8. E, em seguida, também a Alvina
Gameiro, cadeira nº. 14. Duas vagas na APL. O Prof. Arimathéa, então, me chamou
lá e perguntou-me se eu desejava entrar para a APL.
E eu respondi positivamente.
- Olhe, Chico Miguel, tem duas vagas, disse
ele. Uma é a cadeira nº 8, do Professor Francisco
Cunha e Silva; a outra é a cadeira nº 14, da Alvina Gameiro. Imediatamente, eu
apontei a cadeira 14. Porém, vagarosamente, ele disse que eu não concorresse
para cadeira 14, pois eu perderia. Concorresse para a cadeia número 8. Minha
resposta foi pronta e positiva. Assim concorri sozinho, não houve quem quisesse
entrar na disputa, fui candidato único, sabendo que precisava pedir votos do
mesmo jeito e conseguir o número de 20 + 1, conforme o indicativo do Estatuto
da APL. Conto isto, simplesmente, para mostrar a sapiência e a firmeza do Prof.
Arimathéa Tito Filho. Experiência e fortaleza que não lhe faltavam para a
construção e continuidade da “Casa de Lucídio Freitas”, a Academia
Piauiense de Letras.
Como professor, é
indiscutível sua inteligência, sabedoria e competência de Tito Filho, mestre de
várias gerações e admirado por todas. No entanto, posso dizer que, como
escritor, desde muito tempo, eu analisava sua obra de cronista e de crítico da
literatura. Gostei muito, admirei seu trabalho de apresentação e crítico
literário sobre o livro “Impressões e
gemidos”, publicada na 2ª. edição, do poeta José Coriolano de Sousa Lima
(J. Coriolano). Porém, minha admiração maior aconteceu quando li e analisei sua
forma culta de escrever (sem esquecer a severa atualidade dos fatos), forte,
límpida e correta. Admirei-o, como escritor, mais ainda ao publicar o livro “Teresina, meu amor” (1973), cuja forma
de escrever continuou nos demais livros. Cito especialmente Crônicas da Cidade Amada” (1977) e “Sermões aos Peixes” (1990). Daí, resolvi colocá-lo na minha obra “Literatura do Piauí”, como um dos
fortes representantes da “Geração
Meridiano”, juntamente com Manoel Paulo Nunes, O. G. Rego de Carvalho e os
demais daquela geração. Meu livro “Literatura
do Piauí”, 2ª. edição (2013), mostra
bem isto.
Assim, dizer que A. Tito Filho possuía uma
cultura admirável é o mínimo que se pode dizer, pois foi um grande orador e
professor emérito desde o início de sua vida. Assim, confirmo, aqui, tudo o que
coloquei na obra máxima e moderna que é minha história da “Literatura do Piauí”, já mencionada.
Temos que registrar, ainda, que ele foi o
único Presidente da Academia Piauiense de Letras que, em vida, teve a honra de
ser motivo de uma obra especial: “A. Tito
Filho, Incomparavel”, de autoria do escritor Theobaldo Costa Jamundá, natural de
Pernanbuco, mas perfeitamente adaptado ao viver de Florianópolis (SC), onde
constituiu família.
Por fim, a Academia Piauiense de Letras estava
a dever-lhe esta especial homenagem, a qual, em boa hora, foi proposta pela
ilustre Profa. Fides Angélica Mendes Omatti, Presidente atual da “Casa de Lucídio Freitas” e aprovada por
todos nós.
Teresina, PI, 03 de outubro
de 2024.