sábado, 9 de novembro de 2024

 


ABSOLUTA SOLIDÃO

                   Francisco Miguel de Moura*

 

Sente que um frio algente lhe devora

O peito, a face, a alma... É seu castigo

Desde que, pendurado pelo umbigo,

Silencia os lamentos vida em fora.

 

Sente que perde o norte inda na aurora,

Sem equilíbrio, nem andar consegue.

Sem ser mudo, não fala nem persegue

Sorver o ar, o vento... E se descora.

 

Nem pergunta as razões do que padece,

Já não sabe, confuso, o que merece,

Nem por que lhe tocou tamanha herança.

 

Tudo o que sabe é seu viver sozinho,

Sem pai nem mãe, sem filho e sem vizinho,

Anda, desanda e para por vingança.   

______________

*Francisco Miguel de Moura, poeta brasileiro.

quarta-feira, 6 de novembro de 2024

 


POETA & POESIA

Francisco Miguel de Moura, POETA BRASILEIRO


Poetas, não existem, são mentiras.

Estranha é a paixão dos poetas:

Às mulheres, deuses e deidades,

aos sonhos e suas visões elásticas,

o que existiu, o que nunca existirá.

 

Somos a mentira verdadeira

com gosto de beijos ou engasgos,

a saliva engolindo amores no ar.

 

Os poetas se ligam como aranhas,

em teia de comoção e descaminhos.

 

As barbas vão para os profetas

que, com o grande Deus, conversam.

pela verdade de mil umas veras

ao mundo perdido, por seus eixos.

 

Por que falais o cicio escrevinhado,

o’ poetas, do inexiste e inventado?

Escrever é pensar, chorar, rugir

e, acoitados, não fazer mal nenhum?

         

Poetas não existem, são mentiras

fora de sua alma, dentro de sua asma.

 ______________

Nota: Este é primeiro poema de um livro que

não sei se vou publicar. Titulo do Livro POEMAS OUTONAIS.

 

 

 

 

quinta-feira, 10 de outubro de 2024


 


           A TITO FILHO, O GRÃO MESTRE DA APL

                     Francisco Miguel de Moura, membro da APL, cadeira nº 8

          Começo pelo costume acadêmico, nomeando que o ilustre Prof. José de Arimathéa Tito Filho (ou simplesmente A. Tito Filho), tal como assinava seus artigos de jornal e suas obras literárias), foi o segundo ocupante da cadeira 29, da APL, tendo como patrono Gregório Taumaturgo de Azevedo e primeiro ocupante, José de Arimathéa Tito, seu pai.  Nasceu em Barras (PI), em 27 /10 /1924, estudou no Rio de Janeiro (RJ) e durante toda sua vida foi professor, especialmente no Liceu Piauiense, e jornalista, escrevendo constantemente e publicando em vários jornais do Piauí. Vivendo em Teresina, desde então tornou-se uma pessoa das mais ligadas às letras e à cultura. Tomou posse na Academia Piauiense de Letras, em solenidade no Clube dos Diários, sendo presidente deste sodalício, Simplício de Sousa Mendes, em janeiro de 1964. Com a morte de Simplício de Sousa Mendes, em 1971, então exercendo o cargo de Secretário Geral, da APL, A. Tito Filho foi eleito presidente da “Casa de Lucídio Freitas”, em cujo cargo permaneceu até sua morte em 23 de junho de 1992.  E, como sabemos, quem assumiu a Presidência da APL, depois da morte de Tito Filho, foi o Professor e escritor Manoel Paulo Nunes

Durante toda sua vida de acadêmico, A. Tito Filho sempre se reelegia, com tranquilidade, dada a sua competência e prontidão para ocupar-se da cultura e da literatura do nosso Estado. E assim, na minha visão, dirigindo a Academia, ele teve dois períodos áureos, de glória, como administrador. O primeiro foi quando Alberto Silva era Governador do Piauí, o qual, como sabemos, muito se voltou para a valorização do nosso Estado, em todos sentidos. A. Tito Filho instou com o Governador para a criação do Plano Editorial “Petrônio Portela”, começando a editar inúmeras obras de autores piauienses antigos, já quase esquecidos. Para tanto, A. Tito Filho chamou o acadêmico Armando Madeira Basto ao seu auxílio e, em seguida, Jesualdo Cavalcante, que era o Secretário de Cultura.

Minhas relações com A. Tito Filho foram sempre literárias. Não me lembro de como chegou, às suas mãos, o meu livro “Areias”, em 1966, quando eu ainda era um poeta plumitivo. Sei que o elogiou pelo jornal e eu guadei e ainda guardo o recorte.

Mas passei a conhecer um pouco da Academia Piauiense de Letras ainda quando a entidade se reunia numa casa alugada. O Prof. Arimathéa Tito Filho já era seu Presidente. Estive presente em uma reunião acadêmica, quando,  em 1979, levava, debaixo do braço, meu 3º livro de poemas, titulado de “Universo das Águas”, o qual, posteriormente, foi lido e elogiado por ele, chamando-me até de “o Drummond do Piauí”, elogio que não levei a sério,  porque sempre quis ser um poeta original, diferente de todos, embora conhecedor de muitos.

Claro que, para obter o auxílio governamental, A. Tito Filho premiava os governadores que mais olhavam para a cultura: O primeiro foi o já falado Alberto Silva, o segundo foi o Hugo Napoleão. Assim, os dois foram chamados e ocuparam cadeiras na APL. Na esteira do Plano Editorial “Petrônio Portela”, o Governador Hugo Napoleão doou à Academia Piauiense de Letras, o prédio onde nós estamos. E foi este outro momento glorioso para o Presidente A. Tito Filho, como Presidente da “Casa de Lucídio Freitas”. Lembremos que este cognome é uma indicação de que, a APL nasceu sob o signo da poesia. Lucídio Freitas e Alcides Freitas eram essencialmente poetas e o pai desses jovens brilhantes, Clodoaldo Freitas, era jornalista e político, mas também poeta, embora que bissexto, prova de que a APL nasceu pelas mãos de poetas e intelectuais.

 Não me recordo se foi ele, A. Tito Filho, quem ampliou o quadro da APL de 30 para 40 cadeiras, ou se se isto aconteceu ainda época do seu antecessor, Simplício de Sousa Mendes, o que não importa tanto. O fato é que A. Tito Filho, valendo-se dessa ampliação de cadeiras, com intuito de tornar nossa APL semelhante às Academias Francesa e a Brasileira de Letras, ele se beneficiou da ampliação. Assim, entraram piauienses ilustres como Raimundo Nonato Monteiro de Santana e Manoel Paulo Nunes, entre outros.

De forma gradual e inteligente, Arimathéa Tito Filho foi dominando a Academia, chamando pessoas de competência, para o seio da entidade, no campo das letras e da política, ou seja da intelectualidade, conservando o apoio de todos, fossem esses novos sócios residentes no Piauí ou em outros Estados.  Desta forma, ele dominava as suas reeleições.

 Tentando mostrar o seu “modus operandi”, vem-me a lembrança de como A. Tito Filho conduzia a APL, indicando como foi minha eleição para a “Casa de Lucídio Freitas.” Pelos idos de 1960/80, acontecia uma enorme ebulição na cultura brasileira e, por extensão, nos estados, ocasionada pela ditadura militar de l964. Nosso Piauí não ficaria atrás.  Eu, recém chegado do interior da Bahia, juntamente com Francisco Hardi Filho e Herculano Morais, fundamos o CLIP (Circulo Literário Piauiense). A agremiação fez parte da referida ebulição, sem dúvida. Ao tempo, havia um grupo que se denominavam de “os novos”, que se posicionavam contra a Academia Piauiense de Letras. Mas nós, do CLIP, nunca fomos contra a Academia. Nós éramos a favor da celeridade das ações em favor artes, da criação de uma Secretaria de Cultura, da Fundação Cultural, de tudo que pudesse resultar em emissão de concursos de literatura e de artes, publicações de livros etc. Nessa direção é que foi criada também a União Brasileira de Escritores do Piauí (UBE-PI). Lembro-me que em uma das nossas reuniões da UBE-PI, compareceu o Prof. A. Tito Filho, prova de que ele estava atento a tudo que acontecia culturalmente. Não sei porque Herculano Morais e Hardi Filho foram eleitos para APL, antes de mim. Algum tempo depois foi eleito O. G. Rego de Carvalho, embora tenha ele tecido algumas críticas à Academia, proclamando que “ela só acolhia desembargadores e outros intelectuais, e nada de escritores e poetas”. Eu e ele fomos eleitos para APL, um pouco mais tarde do que os dois citados.  O. G. Rego de Carvalho, por seu valor inconteste, não teve concorrente para a eleição.  Já a minha entrada para APL foi um pouco mais tardia e diferente. Embora meu nome já fosse indicado, pela imprensa e por vários acadêmicos de projeção, como merecedor de um assento na “Casa de Lucídio Freitas”, eu concorri a primeira vez por simples brincadeira. É que, com a morte do acadêmico Ofélio das Chaga Leitão, um picoense como eu, ambos ligados ao Banco do Brasil por profissão, a família dele me pediu que eu concorresse para preencher na sua vaga. Claro que não fui eleito, nem eu, nem o Prof. Benjamin do Rego Monteiro, que também concorria. Venceu, em segundo turno, a terceira candidata, Sra. Emília Castelo Brando (Lili).  Uma segunda vez eu tentei entrar para a APL, tendo por concorrente, o J. Romão da Silva.  No primeiro turno ninguém foi eleito, não tivemos os votos exigidos pelo estatuto. Então, o Prof. A. Tito Filho, sabendo que eu não estava disposto a concorrer no segundo turno, chamou-me à Academia, pedindo que eu optasse pela concorrência, que eu tinha todo direito, etc.  Mas eu pedi que me desculpasse, pois não iria pedir voto aos mesmos acadêmicos que votaram no Romão. Isto, para mim, não era justo.

Pouco tempo depois, faleceu o Prof. Francisco da Cunha e Silva, titular da cadeira nº 8. E, em seguida, também a Alvina Gameiro, cadeira nº. 14. Duas vagas na APL. O Prof. Arimathéa, então, me chamou lá e   perguntou-me se eu desejava entrar para a APL.  E eu respondi positivamente.   

- Olhe, Chico Miguel, tem duas vagas, disse ele.  Uma é a cadeira nº 8, do Professor Francisco Cunha e Silva; a outra é a cadeira nº 14, da Alvina Gameiro. Imediatamente, eu apontei a cadeira 14. Porém, vagarosamente, ele disse que eu não concorresse para cadeira 14, pois eu perderia. Concorresse para a cadeia número 8. Minha resposta foi pronta e positiva. Assim concorri sozinho, não houve quem quisesse entrar na disputa, fui candidato único, sabendo que precisava pedir votos do mesmo jeito e conseguir o número de 20 + 1, conforme o indicativo do Estatuto da APL. Conto isto, simplesmente, para mostrar a sapiência e a firmeza do Prof. Arimathéa Tito Filho. Experiência e fortaleza que não lhe faltavam para a construção e continuidade da “Casa de Lucídio Freitas”, a Academia Piauiense de Letras. 

             Como professor, é indiscutível sua inteligência, sabedoria e competência de Tito Filho, mestre de várias gerações e admirado por todas. No entanto, posso dizer que, como escritor, desde muito tempo, eu analisava sua obra de cronista e de crítico da literatura. Gostei muito, admirei seu trabalho de apresentação e crítico literário sobre o livro “Impressões e gemidos”, publicada na 2ª. edição, do poeta José Coriolano de Sousa Lima (J. Coriolano). Porém, minha admiração maior aconteceu quando li e analisei sua forma culta de escrever (sem esquecer a severa atualidade dos fatos), forte, límpida e correta. Admirei-o, como escritor, mais ainda ao publicar o livro “Teresina, meu amor” (1973), cuja forma de escrever continuou nos demais livros. Cito especialmente Crônicas da Cidade Amada” (1977) e “Sermões aos Peixes” (1990).  Daí, resolvi colocá-lo na minha obra “Literatura do Piauí”, como um dos fortes representantes da “Geração Meridiano”, juntamente com Manoel Paulo Nunes, O. G. Rego de Carvalho e os demais daquela geração. Meu livro “Literatura do Piauí”, 2ª. edição (2013), mostra bem isto.  

Assim, dizer que A. Tito Filho possuía uma cultura admirável é o mínimo que se pode dizer, pois foi um grande orador e professor emérito desde o início de sua vida. Assim, confirmo, aqui, tudo o que coloquei na obra máxima e moderna que é minha história da “Literatura do Piauí”, já mencionada.

Temos que registrar, ainda, que ele foi o único Presidente da Academia Piauiense de Letras que, em vida, teve a honra de ser motivo de uma obra especial: “A. Tito Filho, Incomparavel”, de autoria do escritor  Theobaldo Costa Jamundá, natural de Pernanbuco, mas perfeitamente adaptado ao viver de Florianópolis (SC), onde constituiu família.

Por fim, a Academia Piauiense de Letras estava a dever-lhe esta especial homenagem, a qual, em boa hora, foi proposta pela ilustre Profa. Fides Angélica Mendes Omatti, Presidente atual da “Casa de Lucídio Freitas” e aprovada por todos nós.

                  Teresina, PI, 03 de outubro de 2024.

        

sábado, 14 de setembro de 2024



O ADEUS DE TERESA 

     (Homenagem a Castro Alves)


                    Francisco Miguel de Moura*

 

“A vez primeira que eu fitei Teresa”

Vi nos seus olhos uma sofredora,

Tinha uma perna curta e a outra tesa,

Porém, meu Deus, que voz encantadora!

 

Já da segunda vez que eu vi Teresa,

Ela se apresentou tão amorosa,

Em seus olhos – o brilho da beleza,

Em seu andar – que dança audaciosa!

 

Surpreso, na terceira vez apenas,

Amei Teresa e ergui minhas antenas,

Perguntando: - Enganaste a natureza?

 

Por ela apaixonei-me qual infante,

Com ciúmes do seu primeiro amante...

“E foi a última vez que vi Teresa,”

__________

Francisco Miguel de Moura, poeta brasileiro.

 

 

quarta-feira, 4 de setembro de 2024

 


SOBRE-(MIM)-VIVEU

                    Francisco Miguel de Moura*

 

Ele não teve a casa onde nasceu

Nem um menor irmão com quem brincar.

No coração só quis amor guardar,

Mas desse amor só a paixão lhe veio.

 

Era um pingo de gente... Nem cresceu

Da fome que passou... Chupava o ar

E outras vezes comia o próprio lar

De paredes de barro. E ficou feio!

 

Esperava, com  medo, a mãe ausente,

Pois no quintal dos fundos à sua frente

Via um diabo da cor do próprio breu.

 

Quase a morrer de sustos, ansiava

Pela volta da mãe que tanto amava...

Esse menino sobre-(mim)-viveu.

 

____________________

*Francisco Miguel de Moura, poeta brasileiro, nascido no Piauí, mora em Teresina, a cidade mais linda do país, apelidada de “Cidade Verde” pelo grande escritor brasileiro Coelho Neto.

 

 

 

domingo, 1 de setembro de 2024

 

                                           Francisco Miguel, Herculano Morais e Hardi Filho


RIO DA VIDA

    Francisco Miguel de Moura*

      ( ao amigo/poeta Hardi Filho)             

                     

A vida é mais do que caminho ou via,

no seu vaivém de encruzilhada ou feira.

A vida é  um rio onde o caudal se esgueira

sem saber quanto d’água lhe sacia.

 

E pode transformar-se em cachoeira

o mesmo dorso de água que escorria,

depois, curar o transe da agonia

pra quem da pesca vive a vida inteira.

 

Vida e água, cabeça e cabeceira,

beijam-se em nuvens...Como a trama cheira,

e é chuva e cai no mar!...Quanta ventura! 

 

Força é mudar, transcende e nos dá brio,

pois onde há vida há de correr um rio

de sonhos, de bondade e de ternura.

_______________

*Francisco Miguel de Moura, poeta brasileiro.

 

quarta-feira, 14 de agosto de 2024


 

EVASÃO             

            Francisco Miguel de Moura*

          (Homenagem a Drummond (v, estátua)

 

O templo do meu tempo se abateu,

alongando qual aranha que se tece

e vai tecendo, crescendo em revoada,

minha alma desmedida em ciprestes.

Não é moderno, antigo, nem amigo,

vem de antes do relógio e da fadiga,

qual sonho de um autor desconhecido.

Templo que não dá tempo a seu tempo,

é seu olvido... E a desdita humanidade?

Como apagá-la, fagulha por fagulha,

sem ribombar as dores de um trovão?

Sem raio nem neblina, enxovalhante,

o vento, em algum ar das desventuras,

sem pulmão pra suster um só suspiro?

Da janela do templo, inda pagão,

contemplo o sino e o forte bimbalhar

no ar de deus nenhum, de um desumano.

E passo a acreditar-me um anjo nu

que não sobe nem desce... Já sem chão.

____________

*Francisco Miguel de Moura, poeta brasileiro.

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...